Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’
PERDE A GRAÇA
Um indivíduo casado, fazia mais de dez anos que passava todas as tardes com sua vizinha, D. Vicentina.
Enviuvando, seus amigos aconselharam-no a casar-se com a sua vizinha, eis que nutria por ela uma amizade tão íntima.
– Não vêem que se me caso com ela, – dizia ele aborrecido – já não terei onde ir passar as tardes?
SEDE
Certo cavalheiro tinha uma criada que se entregava à bebida, dando cabo dos vinhos da sua adega, em companhia do criado de servir e do cocheiro.
O amo a despediu, aconselhando-a que não pedisse carta de recomendação. A boa mulher enfureceu-se, e até chegou a ameaçá-lo com o juiz de paz.
O amo cedeu, e pôs o seguinte informe no atestado: “Despedi a Tertulhana de minha casa, porque seus namorados têm muita sede.”
SENTINDO NA PELE
Gaspar da Costa de Ataíde foi um almirante português que esteve no Brasil dando combate a Doguy-Trouin, quando este atacou o Rio de Janeiro.
Sendo mandado sair de guarda-costas, constatou que a nau capitania estava fazendo água. Mas os mestres da ribeira das naus garantiram a El-rei que a embarcação estava em boas condições. Calou-se Gaspar da Costa, e só pediu a El-rei que os mestres fossem à bordo para melhor examinarem o estado do navio. Concordou com isto El-rei; e logo que o almirante teve a mestrança embarcada, … mandou levantar ferros! Os mestres tomaram o maior susto!
À saída da barra começou logo a nau a fazer muitas polegadas de água! Sem mais cerimônia, Gaspar da Costa mandou que o acionamento das bombas fosse feito pelos mestres da ribeira (que vestiam-se finamente, com capas à volta). E foi só depois de muito tempo, e de muitas súplicas dos mestres, exaustos de bombear e temendo morrerem afogados, que ele mandou retornar à Lisboa.
Dirigiu-se imediatamente ao Paço, a avisar El-rei que estaria plenamente de acordo com as informações que dessem os mestres a cerca do estado do navio!…
PROPOSTA VANTAJOSA
Certo banqueiro riquíssimo e excêntrico, tendo se sentido encantando com a beleza e a compostura de uma atriz, dirigiu-lhe carta nestes termos:
“Senhora, dizem que tomastes a resolução de ser bem comportada e que pretendeis conservar-vos sempre asim. Exorto-vos a não mudar. O contrato que vos envio, assegura-vos a renda de cinqüenta mil réis por mês, enquanto vos durar essa fantasia. Caso, porém, ela venha a cessar, eu vos darei cem, mas com a condição de me ser concedida a preferência”.
ESTUDANTE
Indo um rústico, na sua terra, procurar o Doutor Juiz de Fora, por precisão que tinha de lhe falar, lhe disse o escudeiro:
– Senhor, tenha paciência, que meu amo está agora fechado na sua biblioteca a estudar processos; venha vossa mercê em outra ocasião, e lhe falará.
Voltou o rústico no outro dia, e o escudeiro lhe respondeu:
– Neste mesmo instante se fechou o Senhor Doutor na biblioteca, e me proibiu de lhe levar recado algum, para não o interromper de estudar os processos.
Quando, no terceiro dia em que o rústico procurou o Juiz, encontrou-o novamente estudando em sua biblioteca; o pobre homem levantou as mãos e exclamou:
– Raios! O Céu permita que venha depressa para esta terra um Juiz de Fora, que já tenha concluído os seus estudos!
CONTA SIMPLES
Uma mulher casada, com o pretexto de aprender a tocar o cravo, tratava com demasiada intimidade o seu professor. O marido escreveu um bilhete ao Sr. Músico, proibindo-o de voltar à sua casa, sob pena de receber de sua parte cinqüenta bordoadas. Soube-o a mulher, e escreveu que lhe esperava às 4 da tarde, se não ela lhe daria cem bordoadas. Viu-se muito confuso o Músico com estas mensagens; porém achando, por um cálculo muito simples e fácil, que era melhor receber cinqüenta bordoadas do que cem, foi ver a Dama, cujo marido cumpriu a palavra. Este ocorrido parece que obrigou o Músico a guardar o leito até nova ordem…