Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’
DOMINÓ
Em tempos houve um artista que pintou um Papa e um Imperador, e junto destes um Fidalgo que dizia: “Eu sirvo a estes dois”. Seguia-se logo um lavrador, dizendo: “Eu sustento estes três”. Ao pé destes estava um mercador que dizia: “Eu engano a estes quatro”.
Aparecia também um advogado, dizendo: “Eu embrulho estes cinco”. Ao lado destes um médico, que dizia: “Eu mato estes seis”. Entre eles um padre, apontando:”Eu absolvo estes sete”.
E aos pés de todos, o Diabo, dizendo: “Eu levo estes oito”.
PAGOS
Dois lavradores armaram uma disputa ao saírem da missa, e no calor dela um deu no outro um bofetão. O ofendido foi dali mesmo queixar-se ao juiz, o qual fez logo conduzir à sua presença o culpado. Depois dos necessários interrogatórios, convencido o agressor da verdade do fato, foi condenado a pagar seis reais ao ofendido por indenização da afronta.
– Seis reais por um bofetão! – disse o sentenciado.
– Sim, senhor, – respondeu o juiz. – É justamente o preço que a lei manda pagar por tal ofensa.
– Bem, estou conforme.
E tirando da bolsa doze reais, pregou no juiz um bofetão bem puxado, apresentando-lhe logo o dinheiro:
– Aqui estão doze reais, – lhe disse – estão ambos pagos.
PREVIDENTE
Dizendo-se a um sujeito que corresse imediatamente à sua casa, pois que estava toda a arder, respondeu muito descansado:
– Isso é coisa que não me preocupa, pois trago comigo as chaves.
QUE DIREI EU?
Queixando-se um ministro de estado a um de seus primeiros subordinados, de ser ministro havia seis anos, o funcionário respondeu:
– Mais razão tenho eu de queixa, pois há seis anos que não sou ministro.
POR ISSO MESMO
Certo pregador, tendo pregado um sermão muito extenso, adormeceu todo o auditório, exceto um indivíduo que passava por bobo. Sumamente sentido o pregador pelo que estava vendo, exclamou muito encolerizado:
– Então que é isso, todos estão a dormir a exceção deste bobo!
– Bobo! – exclamou ele. – E tem razão senhor padre, pois se eu não fosse bobo, teria também adormecido como os demais.
NÃO SOMOS NADA!
Um rico proprietário que tinha grande paixão por cavalos, ficou sumamente penalizado ao dizer-lhe um dos seus criados, que o cavalo em que sua senhoria havia andado na véspera, tinha morrido naquela manhã.
– Que! – exclamou o proprietário. – O cavalo que eu ainda ontem de tarde montei?
– Sim, senhor. – respondeu o criado.
– O cavalo baio, que apenas tinha cinco anos, e era tão bem feito?
– É o mesmíssimo, senhor meu amo.
– Senhor Deus de Misericórdia, – exclamou então o proprietário muito consternado, vendo o cavalo estirado na cavalariça – nós não somos nada mesmo neste mundo!