Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

SABE-SE LÁ QUANDO

Certo homem, tendo bebido muito, levantou-se da cama onde estava com sua mulher, e foi urinar à janela. Chovia, e ele ouvia a água que caía de uma biqueira e, achando que era ele que fazia esse barulho, ficou assim muito tempo.

 Por fim a mulher gritou-lhe:

– Então, não acabas?

 – Ah! – respondeu o bêbado, – acabarei quando Deus quiser!

AMAR É CRER

Uma dama foi apanhada em flagrante pelo seu amante, em colóquio amoroso com o seu rival. E teve o desplante de negar um fato de que ele próprio era testemunha.

– Mas que? – lhe diz ele – E tendes ousadia tamanha de me negar?…

– Pérfido, – chamou-lhe ela – agora vejo que não me tens amor, pois que acreditas mais no que estás vendo, do que no que eu te digo.

QUESTÃO DE PRIORIDADE

Um camponês fora consultar um oculista, e achou-o à mesa, bebendo muito.

– Que remédio hei de fazer nos meus olhos? – perguntou-lhe o camponês.

 – Para começar: nada de vinho. –  respondeu-lhe o oculista.

 – Mas a mim está me parecendo, – replicou o rústico chegando-se para ele, e vendo que o médico também tinha os olhos inflamados – que os seus olhos não estão melhores do que os meus; contudo vossa mercê bebe, e bebe bem!

– Sim, – respondeu-lhe o médico. – porque não estou querendo curar-me dos olhos; estou querendo beber.

SENTENÇA JUDICIAL

O Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para 1871 registra, que a um juiz ordinário do século XVIII, foram entregues uns autos para ele dar a sentença; mas como o tal juiz era demasiadamente ordinário e não sabia como desenvolver-se, lavrou o seguinte no processo: “Visto que estes autos se acham tão intrincados como trezentos diabos, mando que lá as partes se avenham, e não me aborreçam!”.

CAUTELA

Um rapazola, cuja mãe tinha fama de ser promíscua e levar vida desonesta, atirava pedrinhas nuns gentis-homens que se aqueciam ao sol por ser dia de inverno, o que levou um deles a dizer:

– Pare com isso, rapaz, que por acaso poderás acertar no teu pai.

CAUSA MORTIS

Um homem que sofria de certo mal, era tratado por dois médicos charlatães, sem apresentar nenhuma melhora. Passadas algumas semanas, o doente veio a falecer.

O vigário da igreja onde o corpo foi encomendado assentou nos registros paroquiais: “Causa mortis: dois médicos.”