Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

COM PÉ E CABEÇA

Cinco bugres chegados do interior da mata foram trazidos à presença de D. Pedro II. O imperador, com pretensões a poliglota e a conhecer até grego, sânscrito e hebraico; deitou conversa animada no idioma guarani:

– “Ocugelê perereca, pitanga jequitibá, capaíba tiririca, abacaxi araçá!”

Nada. Ficaram na mesma. Nem um sinal se trocou.

 – “Pindaíba grumixama, botocava quingambô?” – insistiu o imperador.

 Quem disse? A nada atendiam os selvagens. Permaneciam impávidos e mudos.

– “Mindinga maçaranduba, mocaíba corororca!” – insistia Sua Majestade.

Afinal um dos tais bugres rompeu o silêncio, em claro português:

– Com licença… Não percebo. Fale coisa que se entenda.

AZARADINHO

No século XIX as escolas eram freqüentadas quase que só por meninos, e significavam o tormento dos guris.

Um menino de escola encontrou um colega que, havia dias, não aparecia nos bancos, nem chiava na palmatória.

– Fulaninho, – perguntou-lhe – por que você não tem ido à escola?

– Porque a mamãe pariu.

– Pariu macho ou fêmea?

– Pariu macho.

– Coitadinho! Logo vai para a escola…

DE TANTO

Numa quaresma, um pio religioso pregava um sermão que ensaiara, pintando com cores negras os tormentos do inferno. Mas, eis que o padre a certa altura ficou mudo, porque não se lembrou de mais nenhuma palavra do sermão.

Disse um casquilho, que até ali o tinha escutado:

– Coitado! Tanto se meteu no inferno, que até por lá se perdeu.

CADA UM DO SEU

Um escravo comprou um chapéu de seda, bonito e lustroso. Principiando a chover, tirou-o da cabeça e guardou-o debaixo da casaca.

– Por que guardas o chapéu, e levas a chuva na cabeça? – perguntou-lhe um parceiro.

– Porque o chapéu é meu, custou o meu dinheiro, e por isso o guardo bem acondicionado. A cabeça é do meu senhor, e ele que guarde e acondicione seus bens.

ALFABETIZADO?

Um bacharel em direito, muito cheio de si, foi convocado a depor como testemunha num julgamento. Aparecendo na sala de audiência, o bacharel fez uma mesura a todos, respeitoso.

Perguntou-lhe o juiz, com gravidade:

– Seu nome?

– José Trancoso Meneses da Soledade. Um seu humilde criado…

– Queira dizer a sua profissão…

– Eu sou, senhor, um bacharel formado…

– Em paz já vou deixá-lo: sabe ler?

CABO DE ESQUADRA

O cabo de esquadra explicava ao soldado o modo de fazer uma espingarda:

– Arranja-se um buraco – dizia-lhe ele – põe-se-lhe ferro à roda, e prega-se-lhe um cabo. Está pronta a espingarda.