Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

DIVERGÊNCIA

Certa vez Emílio de Meneses encontrou na rua com Teixeira Mendes, pregador da religião positivista, que lhe explicou:

– Vou para o apostolado.

Ao que Emílio retrucou:

– Ah, pois eu vou para o lado oposto…

FINALIDADE

Não tendo o que fazer Emílio de Menezes aceitou, certa vez, o convite de um médico da Saúde Pública para acompanhá-lo na fiscalização de uma fábrica de salsichas.

À saída disse o poeta:

– Agora sei porque é que as salsichas são cobertas com uma tripa.

– Por que é? – perguntou o médico.

– É para a gente não saber o que há dentro…

FALÊNCIA BANCÁRIA

Ia, Emílio de Menezes, num bonde, sentado num banco em que já se achavam duas avantajadas matronas. A certa altura da viagem, o banco, talvez porque não resistisse ao peso – como se sabe Emílio era enorme – cedeu e os passageiros caíram. Emílio, ao levantar-se, ria com aquele seu riso sacudido, tão seu.

Uma das mulheres, porém, não achou graça e perguntou ao vate por que se ria, se ele também caíra.

– Rio – respondeu Emílio – porque é a primeira vez que um banco se quebra por excesso de fundos.

SÓ ASSIM

Havia certo indivíduo que, por hábito chamava Emílio de Menezes de “mestre”.

Um dia, o boêmio entendeu que aquilo de “mestre” era demais, pois já o importunava. Quando o homem passou por ele e lhe deu, mais uma vez aquele tratamento, Emílio, depois de um “Salve”, disse, venenoso, aos amigos que o rodeavam:

– Aquele sujeito imagina, com certeza, que eu haja sido tratador de cavalos!

O FIAPO

Vinha certo dia Emílio de Menezes pela rua, quando foi abordado por conhecido “mordedor”. O homem gentil, honrando a espécie entrou a “alisar” o fraque negro do poeta, sacudindo com arte as partículas de poeira que descobria na roupa.

Avistando um fiapo, removeu-o enquanto dava o bote:

– Estou, meu caro Emílio, numa “prontidão” única! Arranja-me aí uns dez mil réis…

O poeta, após o natural sobressalto, protestou:

– Dez mil réis?!…

E apontando a gola do casaco:

– Põe já o fiapo de volta!

DEDILHANDO

O poeta Guimarães Passos foi encontrado uma madrugada a caminhar segurando-se nas grades do Passeio Público, muito lentamente, a mão ora numa das varas de ferro, ora noutra, em passo onde se sentia certa prudência.

– Que fazes aí, ò Guima? – perguntaram-lhe.

E ele, continuando a dedilhar as varas do gradil:

– Estou tocando harpa!