Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’
COMPARTILHANDO
Noutra causa em que tanto o réu quanto a vítima eram escreventes de um mesmo escritório, e Martim Francisco defendia a tese de que o crime ocorrera como vingança pela traição da mulher do primeiro com o segundo, ele declamou os seguintes versos de Curvo Semedo:
Certo escrevente casado
Tinha em casa por dinheiro
Outro escrevente solteiro;
Houve entre eles grande enfado
E de murros um chuveiro,
Mas por causa bem pequena:
Foi por molharem a pena
Ambos no mesmo tinteiro.
PÉ POR MÃO
Certo dia, em assembléia política, um orador fez comentários deselegantes à Martim , cuja lealdade correligionária punha em dúvida.
– A notícia da defecção não a tenho em primeira mão – anunciou o acusador.
– É perfeitamente exato! – retrucou Martim Francisco. – Não a tem em primeira mão e sim ao quarto pé!
CONFUSÃO
Numa contenda jornalística, o seu adversário declarou pomposa e categoricamente, entre diversas insolências dirigidas a Martim: “Escrevo para a posteridade”.
– O meu nobre adversário, – redargüiu-lhe Martim Francisco – confunde posteridade e posterior!
SÓ BURACOS
Um conhecido milionário, extremamente sovina, certo dia certo dia ele fora ao Pascoal, comprar um quilo de queijo suíço, recomendando ao caixeiro:
– Cuidado, hein! Veja como corta! Olhe que, outro dia, eu levei meio quilo deste queijo e verifiquei, ao chegar em casa, que tinha mais de duzentos gramas de buracos.
COM TEIAS
Emílio de Menezes ia ao final de todos os meses ao Tesouro para receber do salário de um cargo público que exercia. E ao entrar ali era sempre abordado por um sujeito que, chorando as suas misérias, conseguia extorquir-lhe uma cédula de cinco mil réis.
Certa vez o mordedor exagerou nas suas lamentações:
– O senhor não imagina – gemia, – o que eu tenho passado. Basta dizer-lhe que há quinze dias não como!
– O que, homem? – espantou-se o poeta.
E para os funcionários:
– Este camarada com certeza já está com teias de aranha no céu da boca!…
AINDA
Olavo Bilac pela Cervejaria Brahma, na Avenida Rio Branco, às 7 horas da manhã, quando teve a grande surpresa de ver Emílio de Menezes, displicentemente sentado no interior do bar, tendo a frente um respeitável copo de chope.
Bilac, aproximando-se de Emílio, disse-lhe em tom brejeiro:
– Mas, então, Emílio, já?
Ao que Emílio de Menezes respondeu:
– Já, não. Ainda…