Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

VEEMÊNCIA

Certo tipo de orador cacete inspirou a Belmiro Braga, o seguinte epigrama:

                        – Um certo orador maçante,

                        Das margens do Paraibuna,

                        Ao falar, de instante a instante,

                        Vai esmurrando a tribuna.

                        E quem o conhece, sente,

                        Por mais ingênuo e simplório,

                        Que os murros são simplesmente

                        Para acordar o auditório.


MULATINHO

O caricaturista Calixto Cordeiro, o “K. Lixto” tinha a tez bem trigueira e costumava vestir-se com muito capricho. Certa ocasião ele resolveu trajar-se inteiramente de marrom claro. Na rua encontrou-se com José do Patrocínio, que costumava chamar-lhe de “mulatinho”. Vendo-o com aquela roupa quase da cor da sua pele, perguntou-lhe Patrocínio:

– Você está nu, Mulatinho?

ANÚNCIO

Na velha São Paulo, um certo Mota era ator e sapateiro. Numa certa peça tinha que dizer:

– Fora daqui, filho indigno! Se não sais imediatamente, atiro-te por aquela janela a pontapés!

Mota, no momento preciso, disse:

– Fora daqui, filho indigno! Se não sais imediatamente, atiro-te por aquela janela a pontapés! E esses pontapés te serão dados com estas botas da Sapataria do Mota, a mais barateira do Brás!

COM ERVILHA…

O satírico baiano, Pinheiro Viegas, começou a ter evidência com a co-autoria do panfleto em versos, O Biriba, em que alvejava Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da República. Numerosos epigramas verbais deram-lhe fama.

Ao morrer Jackson de Figueiredo afogado, no Leblon, disse:

– Viram? Poeta de água doce… Foi tomar banho de mar…

De um sujeito que se dizia católico:

– É tão descrente quanto o arcebispo!

De Graça Aranha:

– Tem mais aranhas que graça…

Contra Coelho Cavalcanti, autor do livro Gigantes e Pigmeus:

– Eis o Coelho Cavalcanti, que nunca se viu ao espelho. Pigmeu, quis ser gigante; burro, assina-se coelho.

BANHO

Uma noite representava-se o Amor de Perdição, com a atriz Adelina Abranches e o ator Carlos Santos. A certa altura deveria ser trazida à cena uma terrina, onde Santos tinha que tomar um caldo, segundo o texto da peça.

E quando Adelina esperava receber a terrina das mãos do contra-regra, aparecem-lhe os braços musculosos de um ajudante, com um caldeirão imenso, dizendo:

– Eu o trago porque isto pesa muito.

Adelina ficou desconcertada. E teve tal acesso de riso, que a peça teve que ser interrompida,  quando Carlos Santos lhe perguntou, em voz baixa:

– Isto é para eu tomar banho?

DRÁSTICO

Por volta de 1890 houve um terrível surto de cólera no interior de São Paulo. As autoridades sanitárias da Capital informaram que a doença era causada pelo microorganismo bacillus vírgula. Os coronéis, órgãos pensantes, deliberantes e agentes do Interior, consultaram o Chermoviz e, por fim, concordaram numa novidade: estabelecer cordões sanitários.

Em Tremembé, esticou-se um desses cordões à cabeça da ponte sobre o Paraíba, rio que banha aquela cidade, constituído por três praças de espingarda ao ombro, a quem o coronel deu ordens peremptórias:

– Não deixem a doença entrar sob hipótese alguma! Se o bacillus vírgula tentar passar, mandem bala!…