Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

MARICOTA CORNETA

D. Pedro I sentia especial prazer em amigar-se com tipos acanalhados e freqüentar ambientes de baixíssimo nível. Francisco Gomes da Silva, por antonomásia “O Chalaça”-  boêmio, ignorante e arruaceiro – era seu homem de confiança e melhor amigo. E conheceram-se na taberna de certa Maria Pulquéria – apelidada Maricota Corneta, por ser viúva de um corneteiro, e anunciar as refeições com a corneta deixada pelo falecido.

SÓ UM AGRADO

                        De Curvo Semdo:

                      – Minha mulher expirou!

                        E a doce tranqüilidade sobre a minha alma baixou!

                       – Pois não lhe tinha amizade?

                       – Só uma vez me agradou.

                       – E quando foi? – Quando passou

                         Desta vida à eternidade.

                        – E por quê? – Porque foi só

                         No que me fez a vontade.

PERDEU A ELEGÂNCIA

Em certa altura do século XIX a moda feminina impunha as “anquinhas”, em que os quadris das mulheres eram acentuados pelo uso de muito enchimento sob as saias.

Certo dia, à saída de um espetáculo no Teatro da Boa Hora, no Recife, o namorado de uma moça notou que a criada desta, aflita, procurava qualquer coisa pela rua. O moço indagou solícito, pensando na pulseira de ouro e no diadema de brilhantes, que a moça ostentava no teatrinho.

E a doméstica, uma preta velha da família, ainda do tempo da escravidão, que procurava apenas os chumaços de pano com que a sua Iaiá enchia as saias na altura dos quadris, retrucou com simplicidade:

Inhor não, meu sinhô… Foi a sinhazinha que perdeu os molambos dela…

ANQUINHAS RIMADAS

A respeito da moda da época, o jornal “O Século”, de Porto Alegre, publicou o seguinte versinho, em 1884:

                                   Travesseiros, jornais velhos.

                                   Saias, camisas e batas.

                                   Do marido umas ceroulas.

                                   Saco que foi de batatas.

                                   Do pequeno as fraldas sujas.

                                   Rotos lençóis sem bainhas.

                                   Eis aí no que consistem

                                   Essas tremendas anquinhas!

RECHEIO DA ELEGÂNCIA

Do Almanaque Laemmert: “Continuação da crise algodoeira. As senhoras, não podendo já obter algodão, recorrerão, além do balão, a outros elementos; na autópsia de um colete se encontraram dois pares de meias, uma dúzia de pavios de lamparina, uma trança de cabelo postiço, um número do Jornal do Commércio e mais algumas bagatelas.”

EU TAMBÉM

Na rua, um cidadão conseguiu finalmente acuar num canto o eterno “mordedor,” que lhe devia já bastante dinheiro, e lhe disse:

– Quero mostrar-te que, às vezes, também sei ser generoso: perdôo-te hoje metade da dívida se me pagares agora o que me deves.

– Pois não serei eu, meu amigo – para logo retrucava o caloteiro – quem vá ficar-lhe atrás: esqueço a outra metade!