Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’
MILAGRE
Seguia lentamente uma diligência por uma encosta que tinha um precipício de cada lado, e disse o alcaide aos demais passageiros:
– Grande milagre se viu aqui o ano passado, num dia como hoje. Imaginem vossas senhorias que despencou uma diligência cheia pelo despenhadeiro da direita.
– E não pereceu nenhum passageiro? – perguntou alguém.
– Todos.
– Pois onde está o milagre?
– Que, por bondade divina, salvaram-se as seis mulas.
ESTRAGADA
Sobre um pobre homem que acabava de sair de casa, derramaram desde uma janela do andar de cima, o líquido de certo vaso.
O homem examinou-se atentamente, e disse:
– Fizeram bem em jogar fora esta bebida; porque me parece que começava a arruinar.
SERIA UM HOMEM MORTO
Para um sujeito que não possuía nem um centavo, contava outro os lances de um duelo de que acabava de participar, e finalizava dizendo:
– A bala do meu adversário se alojou num dobrão de ouro que eu carregava no bolsinho do colete.
– Que sorte! – exclamou o ouvinte – se fosse comigo, eu hoje estaria morto.
FORÇA DE VONTADE
Em casa de um comerciante muito rico, houve tertúlia e cantou um jovem barítono, sendo muito aplaudido.
O dono da casa o chamou à parte e lhe disse:
– Disseram-me que os cantores que ganham mais dinheiro são os tenores; não seja tolo, pois, e cante de tenor!
– Porém, – observou o cantor – se eu tenho voz de barítono…
– Não importa: com aplicação tudo se consegue. Eu comecei contrabandista e hoje me vejo comerciante. Vamos, ânimo.
CONVERSA INFORMAL
– Vosmecê é caçador?
– Uma única vez fui à caça, faz vinte anos.
– Compreende. Vosmecê era inexperiente e aborreceu-se a primeira vez, vendo que não matara nada…
– Ao contrário; matei um guarda-caça.
CÚMULO DO AZAR
– Homem, não há ninguém tão caipora como eu! – queixava-se o boêmio ao amigo. – Vou ao baile de máscaras, gasto um dinheirão, à última hora conquisto uma mulher… e era a minha!