Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’
TIRO DE CANHÃO
Um capitão de artilharia deu um banquete, ao qual convidou um compositor.
Depois das sobremesas, rogaram algumas senhoras ao jovem músico, que tocasse algo ao piano.
O artista se escusou, e então o dono da casa, que tinha um gênio bastante brusco, lhe fez entender que se o havia convidado, havia sido com o objetivo de que tocasse algo.
– Aqui, – acrescentou o artilheiro – cada um deve dar uma prova de suas habilidades.
– Nesse caso, – replicou o compositor – comece o dono da casa disparando um tiro de canhão.
RAZÃO DE SOBRA
– Vosmecê tem de saber – dizia o inquilino ao proprietário do imóvel – Que temos um porteiro insuportável, que nos trata muito mal. Porque vosmecê não o joga no olho da rua?
– Eu já tenho pensado nisso; tenho recebido outras reclamações desse sujeito, porém… Sabe vosmecê por que não o faço? Porque ele é meu pai.
PELA METADE
Os atores de um grupo mambembe, que pretendiam representar num vilarejo, mostraram ao intendente o programa da peça que dizia: Os dois Barbeiros.
O intendente mandou chamar o autor da companhia, que era ao mesmo tempo primeiro galã e ensaiador; e lhe disse:
– Eu não sei se em Os dois Barbeiros há algum insulto à religião ou à Sua Majestade. Por conseguinte, primeiro representarão um só Barbeiro, e se for coisa decente, então poderão representar o outro.
SÓCIOS
Um oficial de milícias e o capelão do seu batalhão jogavam em parceria e perderam grande soma de dinheiro.
O oficial praguejava como um condenado e o cura não dizia uma palavra.
– Cala-te, – disse um seu camarada ao militar – não vês que o padre perde tanto como tu, e assim mesmo se cala?
– Sim, eu me calo, mas sou parceiro no que ele diz! – respondeu o cura.
INOCENTE
Altas horas da noite ouvem-se gritos: Socorro! Ladrões!
Acodem os vizinhos e pegam na escadaria um homem suspeito. Prendem-no por precaução; e a polícia ao revistá-lo encontra uma gazua.
– Olá! Senhor ligeiro! Que fazia na escadaria daquela casa?
– Senhor, eu passeava…
– E esta gazua?
– Ah, cavalheiro! – responde o patife, fingindo secar uma lágrima. – Esse amuleto não me abandona nunca; é uma recordação de meu pai!
SUBORNO INCOMPLETO
A um capitão de navio mercante convinha que certo empregado da aduana fizesse vista grossa sobre o carregamento que ele trazia, e para deixá-lo a seu favor enviou-lhe um saco de café.
O empregado viu entrar um moço com o saco e com rispidez perguntou:
– O que trazes?
– Um saco de café que o capitão envia à vossa mercê – disse o rapaz temeroso de uma repulsa.
E mais irritado do que antes, replicou-lhe o empregado:
– Deixe-o aí em qualquer lugar, porém imediatamente dirás a teu amo que eu não tomo café… sem açúcar.