Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

COMIDA PESADA

O barão das Catas Altas era o tipo perfeito do novo-rico. No século XIX ninguém gastou com tanta ostentação, atirando idiotamente tanto dinheiro fora, como ele. Acendia charutos com cédulas de libras; nos jantares, quebrava a porcelana inglesa e os cristais da Bohemia, por pura farra. Queria assombrar o mundo. De origem humilde; era sacristão quando recebeu por herança do irmão da mulher, que não tinha descendentes, as minas do Gongo-Soco em 1809.

Certa vez em um de seus faustosos banquetes – onde os pratos, os talheres, as taças, as baixelas, tudo, era ouro – à certa altura os criados serviram almôndegas cobertas com um molho espesso e cheiroso. Os “papa jantares” metem os garfos nas almôndegas, mas estas resistem aos talheres. O barão, com os olhos úmidos de prazer, solta uma gargalhada de estrondo. As almôndegas eram de ouro!

– Sirvam-se, senhores! – exclama o nababo à cabeceira da mesa, desmanchado em gargalhadas. Assim, cada comensal ao retirar-se levava consigo uma almôndega.

E quando morreu, em 1839, o tolo barão estava na miséria, não deixando à família mais do que dívidas!…


AS MALAS DO CHALAÇA

D. Pedro I tinha queda por gente reles. E ninguém gozava de mais prestígio junto ao fundador do império brasileiro que Francisco Gomes da Silva, o Chalaça. Ele era a encarnação do que havia de mais ordinário. Bêbado, capoeira, navalhista, tocador de violão, vivia ele em farras pelos prostíbulos, nas ruas fazendo serenatas, ou metido em brigas com outros vagabundos. Mas D. Pedro I teve verdadeira fascinação pelo Chalaça: tirou-o da barbearia em que ele trabalhava, e levou-o para o paço; fez dele conselheiro do império, seu confidente, e o homem que mais força tinha sobre o imperador. Os ministros tentavam em vão livrar-se dele.

Só depois de muitos anos, no tempo da segunda imperatriz, conseguiram os ministros afastar o Chalaça do Brasil, e só o conseguiram com o apoio decidido da soberana – a quem D. Pedro, por paixão, não queria contrariar.

Mas D. Pedro ficou com o ministério atravessado à garganta! Para vingar-se dos ministros, resolveu ir pessoalmente arrumar as malas do favorito, com suas próprias mãos. Depois se gabava disso aos ministros. Fazia-os esperar horas e horas e, quando aparecia dizia:

            – Demorei porque estava arrumando as malas do Chalaça!…