Arquivo da Categoria ‘De 1900 a 1950’

Um casal de meia-idade encontra na rua um conhecido do marido, que o apresenta à esposa:

– Este é o meu grande amigo Semicúpio.

 O apresentado faz profunda reverência, e a mulher responde:

– Folgo muito em conhecê-lo pessoalmente… Meu marido fala muito a seu respeito, a propósito de um dinheiro extraviado na Prefeitura.

O amigo de boa visão conversava com o amigo cego, e a certa altura falou do leite que costumava tomar na fazenda do avô, quando criança.

O cego, que nunca tinha bebido leite, então perguntou:

– Leite? O que é leite?

– Leite é uma bebida; um líquido branco.

– E o que é branco?

– Branco é assim: como um cisne.

– O que é cisne?

– Cisne é uma ave que tem o pescoço comprido, assim… – e ajeito o braço do cego fazendo o pescoço do cisne, e a mão torcida como a cabeça. – Entendeu?

– Entendi! Agora sei o que é leite.

Certa vez Benedito Valadares comprou o “Inglês Sem Mestre”, e cismou de estudar inglês sozinho. Assim, para mostrar a sua recém-adquirida cultura, toda vez que alguém batia na porta do seu gabinete, ele gritava:

– Between!

Quando um assessor, muito discretamente, lhe explicou que between só se aplicava como entre duas coisas, ele passou a ter o cuidado de sempre antes perguntar:

– Quantos são?

Se fossem dois, ele exclamava:

– Então, between!

O filósofo Ivan Lins contava que certo magistrado mineiro, grande amigo de estudar, logo ao se empossar como juiz de direito de Tiradentes, foi seriamente ameaçado de não poder ler sequer um livro, tal o número de pessoas do local que iam visitá-lo, após a missa, tomando-lhe às vezes, dias inteiros…

Não podendo escapar-lhes, adotou o seguinte espanta cacete.

Mal lhe chegava um visitante, perguntava-lhe se conhecia Lobão, o velho praxista lusitano, e, como fosse a resposta negativa, punha-se imediatamente a lê-lo em voz alta, enaltecendo-lhe os méritos…

No fim de certo tempo nenhum dos cidadãos locais o procurava mais, e diziam entre si:

– O Dr. Juiz é um moço muito distinto, mas um bocado maçante com suas leituras de Lobão!…

Conversam dois idosos num banco de praça:

– Você tem algum parente vivo?

– Sim, só um. Mas já é um parente um bocado afastado…

– E quem é?

– O meu irmão, Bonifácio.

– E chama irmão “afastado”?!

– Ora essa! Pois se ele mora em Manaus!

No prado do Jóquei Clube, um aristocrata cumprimenta o outro:

– Parabéns! Os seus cavalos ganham sempre os primeiros prêmios.

– Não admira; isso é tradicional. A minha família sempre teve grandes animais!