Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’

Um homem que andou doente dos olhos por muitos meses, dado a curativos que o iam já cegando de todo em todo, entregou-se afinal só à natureza e ficou curado. Pelo que não se cansava de repetir:

 – A única receita que a experiência me provou ser eficaz para a vista, é fugir de toda coisa que se pareça com médico, cirurgião ou boticário.

Um ilustre advogado paulista e professor de português era um amantíssimo defensor da boa lingüística. Falar errado para ele era um crime de lesa pátria, que não perdoava a ninguém.

Certa vez, no Fórum Criminal, ele assistia como advogado de uma das partes, a um sumário de culpa a que respondiam duas amamentadoras de crianças, por terem produzido uma intoxicação alimentar em bebês.

– Qual a sua profissão? – perguntou o juiz a uma delas.

– Nós semos ama de leite, seu dotô… – respondeu ela.

O advogado lingüístico não se conteve. Interveio, corrigindo-a:

– Semos, não; nós somos!…

As duas acusadas olharam, atônitas, para o seu defensor e, num sorriso, responderam:

– Uai! Gentes! Não sabiava que o dotô também era…

– Que horror! Sabiava, não; sabia!…

– Como hovera de sabê… se seu dotô é home…

Por volta de 1870 havia em São Paulo um conhecido padre, boêmio e amalucado, apelidado Padre Bacalhau. De nome Joaquim de Assumpção Saldanha, pequenote, amigo íntimo do álcool e, sem convite, pessoa obrigada onde houvesse música e cerveja de graça.

Num jantar em que se comemorava a formatura de Oliveira Bello, em dado momento o Padre Bacalhau, erguendo-se e pedindo a atenção do auditório, com suas voz fanhosa pronunciou esta saudação:

– Os traços fisionômicos do ilustre bacharel bem me fazem lembrar os do senhor seu pai, que não se parecia com ele. Deus é sabedoria infinita, isso ninguém nega, mas também é inegável que ele tem debochado desta pobre humanidade. Bello, tu estás formado. Senhor Fernandes Coelho, passe-me a galinha assada. Meus senhores… Meus senhores… Hip! Hurrah!

Um dia, o Monsenhor chefe do Cabido, teve ciência de que na casa do Padre Bacalhau havia mulheres cuja presença não se justificava. Era causa de murmuração pública em toda sua intensidade. Mandou chamá-lo, e disse-lhe:

– O Senhor Bispo está muito mal impressionado com a sua conduta!  Além do seu comportamento indigno pelas ruas, apupado pelos moleques,… Ainda tem em sua casa a companhia de moças!… Isso não pode continuar, Pe. Joaquim!

– É intriga, infâmia!… O que eu tenho em casa são criadas. Quem há de fazer a minha comida, cuidar da minha casa, da minha roupa?…

– Criadas?!…  Quantas?  Quatro criadas!… E jovens!… Criada de padre será uma, e cinquentona!… Compreendeu, Sr. Pe. Joaquim?!…

– Pois bem, procurarei cumprir as ordens de V. Exa. Uma só criada, e cinquentona! – concordou o padre, retirando-se.

Dias depois, o Monsenhor voltou a chamar Padre Bacalhau, e disse-lhe, furioso:

– Então a sua promessa deu em nada!… Tem ou não tem em casa, duas criadas e moças?! Diga!

– Perdão, Monsenhor! Obedeci. Mas é que, como não encontrei uma de cinqüenta, arranjei duas de 25…

Um incorrigível boêmio dado às bebedeiras, auxiliado sempre pelo padre Adelino Montenegro, apresentou-se à residência deste, totalmente embriagado, a suplicar novo ajutório.

O padre teve pena do infeliz e, embora soubesse que o dinheiro poderia ser gasto em bebidas, deu-lhe uma nota, aconselhando-o:

– Olhe, 5$00, mas para comprar pão… para os filhos, ouviu? Pão… compreendeu?

 O bêbedo, beijando-lhe a mão, volveu-lhe um olhar indeciso, e replicou:

– Sim, obrigado, padre! Mas, está nas Escrituras: nem só de pão vive o homem!

Consta que numa loja que se achava situada numa das ruas principais de Madrid, em meados do século XIX, por muitos anos houve um cartaz que dizia: Comércio de jóias, chocolate e outros legumes.