Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’

CONSELHO PRECIOSO

– Meu amigo, – disse um estudante a um barqueiro -, eu tenho necessidade de atravessar o rio, mas estou sem um tostão. Se vosmecê quiser me passar para o outro lado, eu não poderei dar em pagamento mais do que um conselho,… Mas é um conselho de ouro!

– E eu vou sustentar a minha família com conselhos?! – respondeu o barqueiro.

– É que é um conselho que poderá vos valer muito.

– Pois então entre você na barca, disse o barqueiro; – e logo que o tinha atravessado acrescentou: – Vamos ver que conselho é esse que vale tanto?

– É, amigo meu, que se vosmecê quiser viver do seu trabalho, jamais volte a dar conversa a outro tratante como eu!

E O OUTRO?

Tendo um oficial ficado caolho na guerra, substituiu com um olho de vidro o que lhe faltava, e que tinha o cuidado de retira quando se deitava; porém uma noite esqueceu-se e pediu a sua criada que o pusesse em cima de uma mesa. Vendo que a criada não se ia, perguntou-lhe irritado:

– O que está esperando?

– Aguardo que o senhor me dê o outro olho.

DIVISÃO DO TRABALHO

Bernardo Pereira de Vasconcellos sofria de uma paralisia nas pernas, que o obrigava a arrastar os pés quando andava. Entrava ele certa vez no Senado, esfregando os sapatos no soalho, quando o Visconde de Caravelas, que era coxo e abaixava-se de um lado a cada passada, lhe observou, rindo:

– Que é isso? Você está varrendo o Senado?

– É verdade – confessou o grande tribuno. – É verdade.

E aludindo ao defeito do outro:

– Eu varro o Senado e você ajunta o cisco!

ESPÍRITO CRISTÃO

No começo do século XIX, havia em Pernambuco um certo Gonçalo, sacristão de ofício, no qual se incluía o de ajudar os paroquianos a morrer. Ele punha-lhes uma vela benta nas mãos e ia com eles repetindo alto o nome de Jesus, até o trânsito derradeiro. Um dia em que assim fazia, o moribundo demorava-se em sua agonia. Gonçalo então exclamou, persuasivo:

– Morra logo, e deixe-se de bobagens!

PROBIDADE

Dois litigantes, que pretendiam o favor de um juiz, fizeram-lhe, cada um, um presente. O primeiro deu-lhe uma bilha de azeite de oliva, e o outro um porco. Sentenciou o juiz a favor do que lhe mandara o porco. Veio queixar-se o que perdera a, e o juiz respondeu-lhe que entrara na sua casa um porco que lhe tinha quebrado a bilha de azeite, e que este acidente lhe fizera esquecer-se da sua causa.

DO OUTRO LADO

Tendo um aldeão matado com uma lança um cachorro do vizinho que o atacara, este o denunciou ao juiz, que lhe perguntou por que havia feito aquilo. E ele respondeu que para defender-se. O juiz replicou que podia haver lhe dado com o cabo da lança; mas ele respondeu:

– Assim eu teria feito se o cachorro tivesse vindo para me morder com o rabo, e não com a boca.