Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
FOI BARATO
Muitos eram os capitães que tinham escasso conhecimento de navegação – Pedro Álvares Cabral entre eles. Por isso dependiam quase que exclusivamente dos seus pilotos, que, criados desde grumetes na vida do mar, tinham a prática proveniente de continuadas viagens. Ainda que a sua ciência fosse limitada; e por isso pouco fundada a bazófia com que se ufanavam.
Essa bazófia dava por vezes origem a desagradáveis contendas entre eles e os capitães. Para as evitar, no reinado de D. Sebastião se estabeleceu uma multa de trezentos cruzados, ao capitão que injuriasse o piloto.
Certa vez, o capitão Pereira Pestana, farto de aturar a arrogância e as malcriações de seu piloto, resolveu dar um basta nisso: Atou uma bolsa com trezentos cruzados num cabo próximo à roda do leme, e depois aplicou umas violentas bofetadas no piloto. Que, dali em diante, pasou a comportar-se com humildade e subordinação.
PENA MAIOR
Tinha certo meirinho por mulher a uma destas de cabelinho na venta e nariz arrebitado. Tendo um dia o seu ministro de sentenciar um salteador, e parecendo-lhe pouco a pena de morte, perguntou ao meirinho:
– Não acharíamos pena ainda mais áspera?
– Só casando-o. – lhe respondeu o mártir.
NOS MESMOS PÉS
Comentando um velho anúncio nos jornais, de um espetáculo teatral medíocre, de companhia francesa, disse Camilo Castelo Branco: “Eis aqui um cartaz que parece ter sido redigido ontem. É província literária que, há quarenta e três anos, está no mesmo pé, ou nos mesmos quatro pés!”
HÁ POUCO TEMPO
Numa casa de pasto de arrabalde:
– Criado, criado, traga-me a carta.
– Aqui está, senhor.
– Não há mais nada além de pescado e costela de boi?
– Hoje é dia de Ano Novo, e tudo o que havia foi consumido, tudo: o último freguês almoçou pão de anteontem…
– E… quanto tempo terão este pescado e estas costelas?
– Isso eu não posso informar com exatidão; porque não fazem mais de quatro semanas que sirvo nesta casa.
QUASE NÃO MUDOU
Numa reunião falava-se da metempsicose. Um comerciante falido, querendo ser engraçado, disse:
– Recordo-me de ter sido o bezerro de ouro.
– Então a metempsicose não foi completa, retrucou um dos presentes.
– Por quê?
– Por que só perdeste o ouro.
ÓTIMO
Um pobre alfaiate admirava um mural na igreja, representando uma cena do inferno. O cura vendo-o, aproximou-se dele e perguntou-lhe:
– Que tal vos parece o inferno?
– A mim me parece bom, senhor cura, – respondeu ele – pois não vejo ali nenhum alfaiate.