Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’

SEPARADOS

Machado de Assis jantava num restaurante do centro da cidade. E ia servindo a sopa que o garçom acabara de trazer-lhe, quando notou que, à tona da gordura, boiava um fio de cabelo loiro.

– Ouça aqui – chamou o romancista.

E assim que o criado voltou:

– Olhe – disse ele mostrando o prato – eu gosto de cabelo loiro e de sopa, mas separados.

 

JÁ NAQUELE TEMPO

Era tal a ineficiência da polícia de Porto Alegre em reprimir o crime e capturar os bandidos, que a “Gazetinha”, em 1896, publicou uma charge mostrando um guarda municipal que, de olhos vendados, tenta às apalpadelas localizar vários ladrões que estão a sua volta, rindo e zombando.

Abaixo do desenho, o texto:

                                   Pelas últimas notícias

                                   Parece que a moda pega

                                   De gatunos e polícias

                                   Jogarem a cabra-cega.

EFEITO DO SERENO

A aparição do Grande Cometa de 1882, que podia ser perfeitamente visto a olho nu, provocou na população brasileira a mania de ver o cometa nas noites escuras e de temperatura agradável, e motivou a seguinte charge no “Século” de Porto Alegre, sob o título de “O Cúmulo da Ingenuidade”.

Uma mocinha dirige-se a um senhor circunspecto:

– Titio, eu não vou mais observar o cometa. Deu-me uma dor de dentes!… Assim mesmo fui mais feliz que a viúva do primo Henrique. Coitada! Está com o ventre inchado e tão crescido que é uma coisa muito…

– Há de ser fígado sobrinha; há certas umidades que atacam os tecidos glandulosos…

SERESTEIRO

Na Porto Alegre antiga houve a moda das serestas que, de tão difundida, constituía verdadeira praga para as famílias que queriam dormir sossegadas à noite. Até que o Chefe de Polícia, Dr. Barros Cassal, resolveu dar um basta às cantorias noturnas: determinou que qualquer indivíduo encontrado à noite, com violão, fosse imediatamente trancafiado no xilindró como vagabundo.

Uma ocasião, um conhecidíssimo harpista italiano, já grisalho, de óculos, recolhia-se à sua residência, lá pela meia-noite, com sua harpa às costas. O velhote vinha bufando, vergado pelo peso do enorme instrumento, quando foi detido pela patrulha.

– Mas, signore – tentou argumentar o pobre – Io sono harpista, no sono vagabondo!

– Não tenho nada com isto – replicou o cabo no comando da patrulha. – Está preso! São ordens! Então eu havia de deixar você andar nas ruas com um violão deste tamanho?…

SIM SINHÔ…

Celebrava-se, no principal teatro de Salvador, o decenário da morte de Castro Alves. Manuel Vitorino, político e médico de fama, futuro vice presidente da República, sobe ao palco e anuncia à platéia emocionada:

– “O Navio Negreiro”.

O poema, à medida que vai sendo declamado, comove a assistência, em completo silêncio. As respirações parecem suspensas.

E Manuel Vitorino, alteando mais a voz:

                        Andrada! Arranca este pendão dos ares!

                        Colombo!…

E alonga uma pausa, para dar maior vigor ao verso. Mas antes que retome a frase, uma voz fina responde, lá da última galeria, na torrinha do teatro.

– Sinhô?

O riso estala na platéia. E Manuel Vitorino, mais alto, num supremo esforço para dominar o teatro:

                        …fecha a porta dos teus mares!

Ao que a mesma voz zombeteira e fina, como se atendesse à ordem recebida, replica, pilhericamente, obrigando a assistência a rir às gargalhadas:

– Sim, sinhô…

FUNCIONOU

Arthur Azevedo com a idade tornou-se imensamente gordo. Afinal resolveu reagir contra aquilo, tentando um processo de emagrecimento que lhe foi aconselhado: a equitação. Persistiu no esporte por algum tempo, mas, depois de algumas quedas desastradas, subitamente desistiu de tudo.

Perguntaram-lhe ao vê-lo outra vez na infantaria:

– Então, Arthur, andar a cavalo faz ou não faz emagrecer?

– Faz… O cavalo emagreceu bastante. Eu é que fiquei mais gordo.