Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’

ADVOGADOS

Tendo notícia El-Rei D. João II que certo Corregedor da Corte era pouco limpo de mãos, e muito negligente para as partes, lhe disse um dia:

– Corregedor, olhai por vós, e da maneira quer viveis, porque me dizem que tendes as portas fechadas e as mãos abertas.

ASSASINATO

Um pastor de ovelhas vivia quase todo o tempo nos montes, cuidando de seu rebanho, e quase nunca ia à igreja. Mas, uma vez, incitado por seus parentes, ele foi à missa da Semana Santa. Quando, como era o costume, as luzes foram apagadas e os fiéis fizeram, no escuro, tremendo alarido; como diz a Bíblia que fizeram os judeus quando Cristo foi capturado; ele puxou da espada e ficou em pânico, num canto.

Ao serem novamente acesas as velas, ele perguntou ao seu vizinho se ele tinha sido ferido. Nesse instante, os frades passaram carregando o crucifixo, e ele, não reconhecendo a imagem de Cristo, exclamou:

– Bem sabia eu, que um tumulto desses acabaria com alguém sendo morto!

A LANTERNA DO CÉGO

Uma noite escuríssima ia um cego pelas ruas com um luz na mão, e um cântaro de água ao ombro. Perguntou-lhe um dos que passavam:

– Tolo, de que serve essa luz? Não é para ti o mesmo a noite que o dia?

Respondeu o cego, rindo-se:

– Não levo a luz para alumiar-me, senão para que um imprudente, como tu, não me dê um esbarrão e me derrube o cântaro no chão.

SÁBIOS E TOLOS

Um dia El-Rei e um sábio de Coimbra sentaram em lados opostos de uma mesa, com os cortesãos ao redor. O sábio, por esquecimento ou ignorância, transgrediu algumas das regras de etiqueta, de modo a ofender o gosto exigente dos que estavam por perto, o que levou El-Rei a perguntar-lhe:

 – Qual é a distância de um coimbrense a um tolo?

– A largura desta mesa, majestade. – retrucou o sábio.

CULTURA GERAL

Um cavalheiro, muito conversador e folgazão, encontrava-se em companhia de umas damas. Ditas senhoras lhe rogaram que lhes contasse algumas novidades; porém respondeu que nada sabia. Importunaram-no tanto, que ao fim ele disse:

– Pois, senhoras, saibam que a filha do Rei se casa com o Tratado de Tordesilhas.

Uma das damas, muito viva e precipitada, soltou uma grande gargalhada, dizendo ao Cavalheiro:

– Pensais que nós não sabemos que o Tratado de Tordesilhas é um rio?

NÃO CONFUNDA

Um rico comerciante, que possuía três navios de carga, enamorou-se de uma formosíssima mulher, a quem seguidamente dava ricos mimos com o fito de agradá-la. Enviou-lhe, um dia, por seu criado, que era um pouco estúpido, um presente de alto preço. E o advertiu que, se ela perguntasse: Teu amo é muito rico? lhe assegurasse que sim; que era poderosíssimo; que tinha três galeras no Porto.

Instruído o criado pelo seu senhor, levou o presente à dama, ela não deixou de perguntar-lhe:

– Teu amo possui grandes bens?

– E como, senhora. Ele tem três galinhas e um porco!