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TIRO DE CANHÃO
Um capitão de artilharia deu um banquete, ao qual convidou um compositor.
Depois das sobremesas, rogaram algumas senhoras ao jovem músico, que tocasse algo ao piano.
O artista se escusou, e então o dono da casa, que tinha um gênio bastante brusco, lhe fez entender que se o havia convidado, havia sido com o objetivo de que tocasse algo.
– Aqui, – acrescentou o artilheiro – cada um deve dar uma prova de suas habilidades.
– Nesse caso, – replicou o compositor – comece o dono da casa disparando um tiro de canhão.
RESPOSTA PRONTA
Certo embaixador deu um baile, a que compareceu um príncipe estrangeiro. Conversando com o dono da casa, o príncipe lhe disse:
– Homem, por um balcão como este, um de meus antepassados certa vez arrojou a um embaixador.
– Ah! Já sei, – respondeu o outro – deve ter sido na época em que os embaixadores não levavam espada.
RAZÃO DE SOBRA
– Vosmecê tem de saber – dizia o inquilino ao proprietário do imóvel – Que temos um porteiro insuportável, que nos trata muito mal. Porque vosmecê não o joga no olho da rua?
– Eu já tenho pensado nisso; tenho recebido outras reclamações desse sujeito, porém… Sabe vosmecê por que não o faço? Porque ele é meu pai.
EXTRAVAGÂNCIAS RELIGIOSAS
As extravagâncias que nossos antigos pregadores se permitiam em seus sermões, seriam incríveis se não estivessem confirmadas. Um deles tomou por texto de seu discurso, o dia da Assunção da Virgem Maria, com estas palavras do profeta Jeremias: “Ah! ah! ah!”
– Tais são as palavras, – exclamou em seguida – que ouviu Maria quando apareceu no Céu, adornada dos pés à cabeça com todas as virtudes e graças de que o poder Divino pode enriquecer uma alma de uma ordem sobrenatural!
O Pai Eterno lhe disse:
“Ah! Bom dia, minha filha.”
Jesus Cristo lhe disse:
“Ah! Bom dia, minha mãe.”
E o Espírito Santo lhe disse:
“Ah! Bom dia, minha esposa!”
Ah! ah! ah! serão, portanto, as três partes em que dividirei a minha prédica!
E assim o fez.
PELA METADE
Os atores de um grupo mambembe, que pretendiam representar num vilarejo, mostraram ao intendente o programa da peça que dizia: Os dois Barbeiros.
O intendente mandou chamar o autor da companhia, que era ao mesmo tempo primeiro galã e ensaiador; e lhe disse:
– Eu não sei se em Os dois Barbeiros há algum insulto à religião ou à Sua Majestade. Por conseguinte, primeiro representarão um só Barbeiro, e se for coisa decente, então poderão representar o outro.
DE ALTO COTURNO
Dois homens haviam sido condenados à forca por roubo. Juntos se encontravam em um calabouço, quando lhes foram lidas as sentenças.
O escrivão leu a sentença do primeiro, onde constava que ele seria enforcado pelo roubo de um saco de pregos.
– Vejam que reles! – exclamou o segundo – dar a vida por pregos!
Ao ser lida a sua, e a chegar ao parágrafo que dizia “pena de forca pelo roubo de dez mil reais”; acariciou a barba, alisou os bigodes, e voltando-se para seu companheiro, disse-lhe com superioridade:
– Hein, que tal? Meto-me eu com pregos?