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PROFETADAS
Quando andavam adivinhos pelo mundo, um deles encontrava-se num círculo, quando viu passar um cão e disse:
– Aquela cachorra está prenhe; parirá sete filhotes e cinco terão raiva.
– Não é cachorra, – lhe disseram – mas cachorro.
– Pois se é cachorro, – replicou ele sem abalar-se – então está muito bem alimentado.
INOCENTE
Altas horas da noite ouvem-se gritos: Socorro! Ladrões!
Acodem os vizinhos e pegam na escadaria um homem suspeito. Prendem-no por precaução; e a polícia ao revistá-lo encontra uma gazua.
– Olá! Senhor ligeiro! Que fazia na escadaria daquela casa?
– Senhor, eu passeava…
– E esta gazua?
– Ah, cavalheiro! – responde o patife, fingindo secar uma lágrima. – Esse amuleto não me abandona nunca; é uma recordação de meu pai!
RETRATO ANÔNIMO
Desejava um rico comerciante dar seu retrato à uma namorada; mas não querendo que os pais da moça soubessem da coisa, foi ver a um pintor e lhe disse:
– Faça-me vosmecê um bom retrato, porém de tal maneira que ninguém me reconheça nele.
SUBORNO INCOMPLETO
A um capitão de navio mercante convinha que certo empregado da aduana fizesse vista grossa sobre o carregamento que ele trazia, e para deixá-lo a seu favor enviou-lhe um saco de café.
O empregado viu entrar um moço com o saco e com rispidez perguntou:
– O que trazes?
– Um saco de café que o capitão envia à vossa mercê – disse o rapaz temeroso de uma repulsa.
E mais irritado do que antes, replicou-lhe o empregado:
– Deixe-o aí em qualquer lugar, porém imediatamente dirás a teu amo que eu não tomo café… sem açúcar.
IMPERDOÁVEL
Um rei de Portugal que tinha que escrever uma carta ao Papa, chamou a um de seus cortesãos, dizendo-lhe:
– Visto que sabeis sobre o que há de versar a correspondência, escrevamos uma carta cada um, e a que resultar melhor escrita é a que enviaremos ao Pontífice.
Assim o fizeram, e o próprio rei teve de reconhecer que não era a sua carta a preferível, e o admitiu no ato.
O cortesão só lhe respondeu com uma profunda reverência; porém imediatamente correu a despedir-se de seu melhor amigo, dizendo-lhe:
– Vou me expatriar, porque estou perdido. O rei constatou que tenho mais talento do que ele e nunca irá me perdoar.
ATÉ ENTENDER
Um estudante em apuros, depois de mil cartas explicativas e ineficazes, escreveu o seguinte:
“Querido pai: dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro”.
O padre lhe respondeu:
“Querido filho: não mando, não mando, não mando, não mando”.