Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

LEBRES POLIGLOTAS

Participando de uma caçada, um eclesiástico, ao avistar um bando de lebres, exclamou em latim:

Ecce multi cuniculi!

Ouvindo-o as lebres fugiram, e os companheiros o repreenderam por tê-las espantado dessa forma; tendo o religioso se justificado:

– Eu não sabia que as lebres entendiam latim…

TREMURA

Certo dia, El-rei D. João IV, vendo que um certo duque, conhecido na Corte por grande apreciador de vinho, tremia muito, disse-lhe:

– Vós deveis beber bem.

Ao que o nobre respondeu, com muito espírito:

– Nem por isso, majestade, pois entorno grande parte…

JUSTIÇA SUMÁRIA

Um juiz do século XVII não tinha mais do que uma fórmula para os processos criminais.

Se o prisioneiro era velho, dizia:

– Enforquem-no, enforquem-no, que já deve ter feito outras.

Se o prisioneiro era jovem:

– Enforquem-no, enforquem-no: ou ele fará outras.

CUIDADO!

Levavam a enterrar um beberrão, que parecia ter sofrido uma morte súbita. Por casualidade, quando o conduziam ao cemitério, passaram junto a um espinheiro. Picaram-no os espinhos, e ele voltou a si de seu letargo, de maneira que viveu ainda quatorze anos mais, embriagando-se e aplicando formidáveis surras na mulher.

Morreu finalmente, e quando o foram enterrar, disse a viúva aos carregadores:

– Por amor de Deus, vizinhos, não passem com o corpo de pobrezinho pelos espinheiros!…

COMEÇANDO POR CASA

O Conselheiro Chefe de uma aldeia, cansado das constantes reclamações que lhe eram trazidas pelas mulheres do povoado contra seus maridos, decidiu cortar o mal pela raiz: ordenou que todos os maridos cujas mulheres estivessem insatisfeitas da forma como eles dirigiam os seus negócios e as suas famílias, fossem atirados no rio.

Quando a sua mulher ficou sabendo, perguntou-lhe:

– Marido meu; sabes nadar?

– Não.

– Pois te aconselho que aprendas…

CONDE DE NARANJO

No século XVII, contavam-se muitas anedotas a respeito do conde de Naranjo.

Conhecendo o senhor cura a sua notória estupidez, preveniu-o um dia que aprendesse, pelo menos, o Pai Nosso e os Sete Mandamentos, porque se não os soubesse não poderia aprová-lo no exame para freqüentar a paróquia.

O conde retirou-se para casa meio desesperado. Como sua mulher queria saber a causa de seu desgosto, disse-lhe:

– Que queres que eu tenha? Não é coisa estranha que nosso cura seja dado à mania de que todos devemos ser teólogos? Como há de confessar-se um homem como eu, que não estudou?

Este bom conde foi em outra ocasião confessar-se. Conhecendo o sacerdote a rudeza do penitente, perguntou-lhe:

– Sabeis vós os Sete Mandamentos?

– Qual! Isso seria saber muito!

– É possível que um cavalheiro como vós ignore uma coisa tão essencial?!

– Tende razão, padre; porém eu deixei de aprendê-lo porque correm boatos de que vão ser suprimidos.