Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

O MESSIAS

Um fidalgo tinha tomado emprestado muito dinheiro dos judeus, hipotecando em garantia a esperança que tinha de herdar de um tio solteirão, muito enfermo e desenganado pelos médicos.

Porém como o homem propõe e Deus dispõe, o tio não só se pôs são, como casou e teve um filho. Adeus esperança dos judeus! Adeus hipoteca!…

O fidalgo, ao sabê-lo, exclamou:

– Este menino é o Messias, que veio para destruir os judeus…

TROCA DE DENTES

Um camponês queria vender um cavalo. Um interessado perguntou-lhe:

– Este animal já tirou os primeiros dentes?

– Já, tirou sim. Na verdade tirou-os já duas vezes…

– Como pode ser isso? – admirou-se o outro.

– Pois, – respondeu – ele tirou os meus uma vez, e outra os de meu pai.

SOB AMEAÇA

Dois frades foram pedir ao rei Filipe II certo benefício para a sua comunidade. O mais velho, que por essa circunstância tocava falar primeiro, era um maçante que falava sem parar, e fez a El-rei um prolixo e importante discurso sobre o negócio que requeria, aborrecendo-o com ele por largo tempo.

 Quando ele terminou de falar, perguntou El-rei ao outro, se tinha alguma coisa que acrescentar ao que seu companheiro dissera. O frade, que estava tão cansado da impertinência do outro, como El-rei aborrecido de aturá-lo, respondeu:

– Sim, senhor; a nossa comunidade me encarregou de que, no caso de Vossa Majestade não fazer o que pedimos, faça com que meu companheiro torne a repetir-lhe tudo o que disse, desde a primeira letra até a última!

O rei caiu na gargalhada. E dizendo “ter medo de que a ameaça se cumprisse”, despachou logo o negócio como se pedia!…

SEM ESQUECER…

Um príncipe em longa viagem com seu séquito, passou por uma pequena cidade do interior, onde saíram a Câmara e as autoridades locais a cumprimentá-lo.

O orador começou o seu discurso nos seguintes termos:

– Príncipe grandíssimo, magnificentíssimo, sapientíssimo…

– Oh! – interrompeu o príncipe – acrescentai também, e cansadíssimo!

COM A BENÇÃO DO PAPA

Os portugueses, assim como outros povos da Europa, não viam qualquer impedimento moral à escravidão – desde que os escravizados não fossem europeus, nem cristãos.

E a própria Igreja dava seu beneplácito a essa desumanidade; através da Bula Papal Inter Caetera, de 1456, o Papa Calixto III reafirmava especificamente o direito de Portugal reduzir os muçulmanos e africanos à servidão.

PURA VERDADE

Certa dama mandou vir à sua presença um famoso astrólogo, e interrogou-o acerca de coisas que desejava saber. O mago consultou os astros e traçou logo várias figuras, a cujo respeito raciocinou. A senhora achou-o lamentável e deu-lhe um real.

– Vejo, – disse ele – pelas minhas leituras astrológicas, que não sois rica.

– Confirmo-o.

– Mas, senhora, as figuras mostram ainda que tendes tido prejuízos.

– De fato; o último foi o real que acabo de vos dar…