Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

De Tomás de Noronha (? – 1651), a respeito de certa mulher, que tinha o cuidado de fechar bem a porta da casa ao entardecer, mas que depois, às escondidas, recebia o cura:

Que importa ao crédito vosso
Fechardes, todos os dias,
A porta às Ave-Marias,
Se a abris ao Padre-Nosso?

A respeito de uns noivos que casaram na igreja, ele com roupas emprestadas e ela gripada e com febre:

Saiu o noivo muito bem trajado,
Saiu a noiva muito bem trajada
O noivo com tudo emprestado,
A noiva toda emplastrada.

Folgamos todos os amigos seus
De ver o noivo assim com tanto brio,
De ver a noiva assim com tanto brio.

Disse-lhes o cura então: – Confia em Deus.
E respondeu o noivo: – E eu confio.
E respondeu a noiva: – E eu com frio.

Justiça Divina? Fosse por que razão fosse, o fato é que, enquanto os senhores brancos – que só andavam a cavalo ou de cadeirinha, empanturravam-se de comida e passavam os dias na rede – afinando as pernas e engrossando a cintura – raramente passavam dos 50 anos; os escravos africanos, obrigados a fazerem exercícios e a alimentarem-se com frugalidade, em geral tinham vida longa e saudável!

Este fato logo chamou a atenção dos brancos, que cunharam o conhecido dito popular: Negro quando pinta; é três vezes trinta. Isto é: Quando o negro fica grisalho, é porque está bem velho…

No Nordeste, onde, no século XVII se situavam os engenhos de açúcar utilizadores do braço escravo africano, há um pássaro madrugador, chamado “xexéu”. O xexéu, com seu canto: “chá… chá… chá”, anuncia o nascer do dia primeiro que o galo-da-campina.

Entre os escravos era conhecido como “o feitor”, pois com seu canto – regulador que não se atrasa –  marcava o início da massacrante jornada de trabalho! De longe, soava imperativamente como que dizendo: “Já! Já! Já!… Já é hora de trabalhar!”

Por essa razão, nos dias de folga, os escravos davam-lhe caça implacável a bodoque. Diziam ser seu sonho extinguir da face da terra o maldito Xexéu!..

Um proprietário, tendo que fazer jornada e acordando muito cedo, chamou o criado e ordenou-lhe que visse se já era dia.

O criado abre a janela e vendo tudo escuro respondeu:

– Ainda não, patrão.

– Pedaço de asno! – torna o patrão, enfadado – como podes ver o dia se ias às escuras? Olha, acende uma dessas velas e vai ver outra vez.

Um cavalheiro carregado de dividas estava nos últimos extremos da agonia.

– A única coisa que pediria a Deus – dizia ele ao seu confessor – é que prolongasse a minha vida até eu poder saldar todas as minhas dívidas.

– Tão justo é o motivo, que se deve esperar que Deus aceda às vossas súplicas. -respondeu o religioso.

– Se Deus me concedesse essa graça – disse logo o moribundo, voltando-se para um de seus velhos amigos, que estava presente – estaria certo de não morrer nunca!