Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

VISTO PELOS AMIGOS

“Ora, Gregório de Matos era um notabilíssimo canalha, um reles boêmio, quase louco, sujo, mal vestido, tocando lundus, e declamando poesias obscenas, incorrigível, vadio, incapaz de trabalho assíduo, mau marido e péssimo cidadão, enfim de vida negra.”

Esta opinião não é de nenhum inimigo do poeta, mas de um seu grande admirador, Ararípe Júnior. O que dele não diriam os inimigos…

FREIO

Gregório de Matos foi chamado em palácio pelo governador Caetano de Melo, o qual o proibiu de fazer versos, atacando fosse quem fosse. Dias depois passava o poeta por uma das ruas da Bahia quando viu duas mulheres engalfinhadas, em atitude ridícula. Fez uma corneta com as mãos, e pôs-se a gritar:

– Aqui d’El-rei contra o Sr. D. Caetano de Melo! Aqui d’El-rei contra o Sr. D. Caetano de Melo!

Acorreram populares, indagando o que era. E o poeta, aflito, de um lado para outro:

– Proibiu-me de fazer versos quando me oferecem assuntos como este!

ALIÁS…

Entre as muitas rixas que lhe atormentavam a vida, teve Gregório de Matos uma com o vice-rei do Brasil, D. Afonso Furtado de Mendonça Castro do Rio e Menezes.

Passava esse fidalgo, um dia, por uma rua da cidade, quando o poeta sacudiu a cabeça, num gesto significativo:

– É célebre! – disse.

E de mão no queixo:

– Ainda não vi um Mendonça que não tenha “Furtado”!

MARIDO GENTIL

Um dia, a mulher de Gregório de Matos, D. Maria de Povos, que não o podia mais aturar, saiu de casa e refugiou-se na casa de um tio. Ele se propõe a acomodar o casal. A este efeito, a custo conseguido, impõe Gregório uma condição:

– Só se vier amarrada a mulher, em cordas, e por mão do competente capitão-do-mato, como negra fugida. Os filhos que tiver chamar-se-ão Gonçalos, pois é minha casa de Gonçalo, onde manda mais a galinha que o galo…

Assim se fez, e ao capitão-do-mato se pagou a “tomadia”, do regimento de custas.

VISÃO BENIGNA

Em poemas como este, Gregório de Matos descreveu o que era naquele tempo a cidade da Bahia:

                        A cada canto um grande conselheiro,

                        Que nos quer governar cabana, e vinha;

                        Não sabem governar sua cozinha,

                        E podem governar o mundo inteiro.

 

                        Em cada porta um freqüentado olheiro

                        Que a vida do vizinho, e da vizinha

                        Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha

                        Para levar à praça e ao terreiro.

 

                        Muitos mulatos desavergonhados,

                        Trazidos pelos pés os homens nobres,

                        Posta nas palmas toda a picardia.

 

                        Estupendas usuras nos mercados,

                        Todos, os que não furtam, muito pobres,

                        E eis aqui a cidade da Bahia.

Ó LÍNGUA!

Gregório de Matos tinha 47 anos quando voltou ao Brasil sob a proteção do arcebispo da Bahia, D. Gaspar Barata. Tantas e tais fez Gregório de Matos na Bahia que não só perdeu a proteção daquele prelado, como ainda foi degredado para Angola.

 O degredo deveu-se à excessiva agressividade ao governador, cujo filho, Antônio da Câmara Coutinho, apareceu na Bahia disposto a matá-lo. D. João de Lencastre, admirador do poeta, evitou que tal acontecesse despachando-o para Angola. E lá partiu ele destratando a Bahia:

                        “Adeus praia, adeus cidade,

                        Agora me deverás,

                        Velhaca, o dar eu a Deus

                        O que devo ao demo dar,

                        (…)”