Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’
MUDANÇA DE PORTADOR
Uma aldeã jovem ia caminhando a pé, e levava seu burro adiante. Encontrou-se com um cavalheiro, a quem agradou muito seu gracioso rostinho, e que lhe perguntou:
– Conheces em teu lugar a filha do Antônio Ribas?
– Sim, senhor. – respondeu a aldeã.
– Pois então, minha filha, dê-lhe este abraço de minha parte.
– Não, senhor; – retrucou a jovem – melhor será que o deis ao meu burro, que chegará primeiro que eu.
SIGLA
Havia um camponês, que seguia um pleito em certo tribunal. Um dia, em que havia esperado quatro ou cinco horas esperando em uma das ante-salas do Presidente, fixou a vista na placa afixada sobre a porta da sala, onde se lia: “P.P.P.P.”, significando Pedro Pacheco Primeiro Presidente. Contemplava-a boquiaberto quando saiu o presidente, e lhe perguntou:
– Que pensas, amigo, que significam essas quatro letras?
– Por minha fé, Senhor, – respondeu ele – não podem significar outra coisa que: “Pobre Pleiteante Precisa Paciência”.
PARENTES ILUSTRES
Dois cortesãos iam um dia passeando juntos pelo campo, quando avistaram um lavrador que batia desapiedadamente em seu asno. Movidos pela compaixão por aquela pobre besta, disseram ao lavrador:
– Amigo, por que castigais tanto este infeliz animal?
O camponês então, tirando o chapéu, e fazendo uma profunda reverência para o seu burro, disse-lhe:
– Perdoai-me, senhor asno; que eu não sabia que tivésseis parentes na Corte.
SENDO ASSIM
Um desertor a quem iam enforcar, estando já na escada da forca, deu ao confessor uma jóia de prata. O verdugo, irritado de que não a fora dada a ele, disse ao confessor:
– Enforque-o vós, meu padre!
E AÍ?
Entrando um sábio em uma das aulas da Universidade de Coimbra, ouviu que dizia o lente:
– Vede aqui, um tópico que há mais de quatrocentos anos se disputa.
E o sábio lhe perguntou:
– E o que foi decidido?
IGNORANTE
Visitava um embaixador estrangeiro a biblioteca do Paço da Ajuda, e constatou que o bibliotecário era um ignorante. Falou depois com El Rei da magnificência do edifício, e disse à Sua Majestade que o encarregado da imensa biblioteca era um homem singularíssimo, tanto que, poderia ser um grande Ministro da Fazenda.
– Pois, por quê? – perguntou o rei.
– Senhor, – respondeu o embaixador – jamais se tiraria proveito próprio de vossas rendas, assim como nada aproveitou dos livros de Vossa biblioteca.