Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’
HÁ POUCO TEMPO
Numa casa de pasto de arrabalde:
– Criado, criado, traga-me a carta.
– Aqui está, senhor.
– Não há mais nada além de pescado e costela de boi?
– Hoje é dia de Ano Novo, e tudo o que havia foi consumido, tudo: o último freguês almoçou pão de anteontem…
– E… quanto tempo terão este pescado e estas costelas?
– Isso eu não posso informar com exatidão; porque não fazem mais de quatro semanas que sirvo nesta casa.
QUASE NÃO MUDOU
Numa reunião falava-se da metempsicose. Um comerciante falido, querendo ser engraçado, disse:
– Recordo-me de ter sido o bezerro de ouro.
– Então a metempsicose não foi completa, retrucou um dos presentes.
– Por quê?
– Por que só perdeste o ouro.
SEPARADOS
Machado de Assis jantava num restaurante do centro da cidade. E ia servindo a sopa que o garçom acabara de trazer-lhe, quando notou que, à tona da gordura, boiava um fio de cabelo loiro.
– Ouça aqui – chamou o romancista.
E assim que o criado voltou:
– Olhe – disse ele mostrando o prato – eu gosto de cabelo loiro e de sopa, mas separados.
JÁ NAQUELE TEMPO
Era tal a ineficiência da polícia de Porto Alegre em reprimir o crime e capturar os bandidos, que a “Gazetinha”, em 1896, publicou uma charge mostrando um guarda municipal que, de olhos vendados, tenta às apalpadelas localizar vários ladrões que estão a sua volta, rindo e zombando.
Abaixo do desenho, o texto:
Pelas últimas notícias
Parece que a moda pega
De gatunos e polícias
Jogarem a cabra-cega.
EFEITO DO SERENO
A aparição do Grande Cometa de 1882, que podia ser perfeitamente visto a olho nu, provocou na população brasileira a mania de ver o cometa nas noites escuras e de temperatura agradável, e motivou a seguinte charge no “Século” de Porto Alegre, sob o título de “O Cúmulo da Ingenuidade”.
Uma mocinha dirige-se a um senhor circunspecto:
– Titio, eu não vou mais observar o cometa. Deu-me uma dor de dentes!… Assim mesmo fui mais feliz que a viúva do primo Henrique. Coitada! Está com o ventre inchado e tão crescido que é uma coisa muito…
– Há de ser fígado sobrinha; há certas umidades que atacam os tecidos glandulosos…
SERESTEIRO
Na Porto Alegre antiga houve a moda das serestas que, de tão difundida, constituía verdadeira praga para as famílias que queriam dormir sossegadas à noite. Até que o Chefe de Polícia, Dr. Barros Cassal, resolveu dar um basta às cantorias noturnas: determinou que qualquer indivíduo encontrado à noite, com violão, fosse imediatamente trancafiado no xilindró como vagabundo.
Uma ocasião, um conhecidíssimo harpista italiano, já grisalho, de óculos, recolhia-se à sua residência, lá pela meia-noite, com sua harpa às costas. O velhote vinha bufando, vergado pelo peso do enorme instrumento, quando foi detido pela patrulha.
– Mas, signore – tentou argumentar o pobre – Io sono harpista, no sono vagabondo!
– Não tenho nada com isto – replicou o cabo no comando da patrulha. – Está preso! São ordens! Então eu havia de deixar você andar nas ruas com um violão deste tamanho?…