Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

SIM SINHÔ…

Celebrava-se, no principal teatro de Salvador, o decenário da morte de Castro Alves. Manuel Vitorino, político e médico de fama, futuro vice presidente da República, sobe ao palco e anuncia à platéia emocionada:

– “O Navio Negreiro”.

O poema, à medida que vai sendo declamado, comove a assistência, em completo silêncio. As respirações parecem suspensas.

E Manuel Vitorino, alteando mais a voz:

                        Andrada! Arranca este pendão dos ares!

                        Colombo!…

E alonga uma pausa, para dar maior vigor ao verso. Mas antes que retome a frase, uma voz fina responde, lá da última galeria, na torrinha do teatro.

– Sinhô?

O riso estala na platéia. E Manuel Vitorino, mais alto, num supremo esforço para dominar o teatro:

                        …fecha a porta dos teus mares!

Ao que a mesma voz zombeteira e fina, como se atendesse à ordem recebida, replica, pilhericamente, obrigando a assistência a rir às gargalhadas:

– Sim, sinhô…

FUNCIONOU

Arthur Azevedo com a idade tornou-se imensamente gordo. Afinal resolveu reagir contra aquilo, tentando um processo de emagrecimento que lhe foi aconselhado: a equitação. Persistiu no esporte por algum tempo, mas, depois de algumas quedas desastradas, subitamente desistiu de tudo.

Perguntaram-lhe ao vê-lo outra vez na infantaria:

– Então, Arthur, andar a cavalo faz ou não faz emagrecer?

– Faz… O cavalo emagreceu bastante. Eu é que fiquei mais gordo.

O CARTEIRO

Tendo Arthur Azevedo fracassado na tentativa de emagrecer praticando a equitação, alguém comentou:

– Se você tivesse andado a pé teria dado melhor resultado…

– Também andei…

– E deixou de andar?

– Deixei… Por causa de um carteiro de Jacarepaguá…

– Um carteiro?

– Sim… É imenso… Muito mais gordo do que eu. Perguntei-lhe se sempre fora assim. “Não, senhor – respondeu – só depois que comecei a ser carteiro”.

CAFUNDIOU-SE

Em 1883, o vapor belga “Copernicus” naufragou perto da cidade do Recife. Os objetos salvados do naufrágio, principalmente fazendas, que foram dar à praia, logo foram postos a venda nas lojas de tecidos que atendiam às classes menos abastadas.

Certa vez entrou um matuto numa loja de fazendas finas da cidade, e agradou-se de uma peça de chita do fabricante “Weiss-Fries”, de Mulhouse, na França. Chamando o vendedor, disse-lhe:

– Quero levá esse pano do vapô cafundiou-se.

O vendedor, com grande empáfia, explicou-lhe, porém, que aquele tecido não era salvado do naufrágio; que a loja não trabalhava com aquela espécie de fazenda.

Ao que o matuto, que lia alguma coisa, apontando para a etiqueta onde estava escrito “Mulhouse”, protestou:

– Oh! Seu freguê? Pois vosmicê diz que não tem fazenda do vapô cafundiou-se e aqui diz “molhou-se”! Se não qué vendê antonse diga!

E lá se foi o homem pela porta afora, indignado, a procura de fazenda “do vapô cafundiou-se”!

IDADE DE CRISTO

Numa roda de senhoras, conversava-se sobre idades. Uma de cinqüenta exclama, com afetação:

– Eu cá não oculto meus anos; tenho a idade de Cristo.

– 1886 anos! – diz, à parte, um malicioso.

MUITO MAIS JOVEM

Um velho, sendo apresentado a uma velha de nome Vitorina, diz já ter conhecido uma senhora com esse mesmo nome há trinta e dois anos.

– Já deve ser da minha idade, então… – observou a velha trejeitando.

– Sim, se vossemecê anda pelos setenta…

– Setenta! Deus nos acuda!… Pois eu tenho lá setenta anos?! – responde a velha, indignada.

– Então quantos anos tem vossemecê?

– Fiz sessenta e nove há seis meses.