Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

COMO É QUE É?

Durante o Segundo Império, o vetusto Jornal do Commércio informou a seus leitores que D. Pedro II, ao convalescer de uma queda do cavalo, “saiu de seus aposentos apoiado em duas maletas”. O público, que já não levava muito a sério o nosso imperador, a quem chamavam de Pedro Banana, delirou com a notícia, fingindo não perceber que o jornalista obviamente queria escrever muletas.

No dia seguinte, com uma digna humildade, o jornal resolveu pôr uma pedra sobre o assunto, publicando uma errata em que admitia o engano e concluía: “Com efeito, o que escrevemos foi que Sua Majestade saíra de seus aposentos, amparado em duas mulatas”.

“ENGENHEIRO”

Visitando certa cidade, o velho e magnânimo D. Pedro II foi banqueteado, sentando-se à mesa com os grandes senhores de engenhos de cana.

Escolhido pelos donos de engenho, um distinto engenheiro que depois foi notável professor da Escola Politécnica, produziu belíssima saudação.

O Imperador, agradecendo, disse que não podia terminar sem saudar a nova e já brilhante engenharia nacional.

– Da mea parte muito obrigado! – aparteou um dos “engenheiros” de cana de açúcar…

NOBREZA DEMOCRÁTICA

No tempo do Império deteve um policial o coche de Dom Pedro II que passava pela Rua do Ouvidor, que era interditada para carruagens. E como o cocheiro declarasse que aquela carruagem era de Sua Majestade, nem por isso se amedrontou o guarda e respondeu:

– A lei é para todos. Nem que fosse o carro da Suzana!

E o Imperador teve de retroceder…

A Suzana referida era uma famosa cafetina que costumava passear com suas “meninas” em coche aberto.

FALE BAIXO!

A Princesa Imperial, Dona Isabel, e seu marido, o Conde D’Eu, em visita ao Rio Grande do Sul, ficaram hospedados no solar do estancieiro João Pinto Guimarães. De regresso à Corte, sensibilizada pelo tratamento recebido, a princesa pediu ao presidente da Província, barão de Sobral, que fosse à fazenda agradecer ao Sr. Guimarães e sua família, acrescentando:

– Não esqueça o “seu” Costa, o capataz, a quem eu e o Gastão também mandamos abraços.

Apressou-se o presidente em desincumbir-se da missão. E depois de falar ao fazendeiro, dirigiu-se ao capataz:

– Seu Costa, a Princesa Isabel gostou muito do senhor, e lhe mandou um abraço.

O capataz, porém, bateu no joelho do barão, e levando o indicador à boca, pediu:

– Fala baixo, hóme de Deus! A minha véia é muito desconfiada…

NOBRES A GRANEL

Na época da monarquia, tamanha foi a derrama de títulos nobiliárquicos, que o humorista Pafúncio Semicúpio Pechincha (Eduardo Laemmert), fazia troça:

“Foge cão. Que te fazem Barão! Mas para onde? Se me fazem Visconde. Ou daqui a um mês, me nomeiam marquês? Ou por qualquer truque, me fazem Duque?”

QUE PERIGO!

Pelas ruas vagava em desatino, um pobre paspalhão apatetado, em busca de seu asno que fugira. A todos perguntava se não viram o seu animal sumido:

– Ele é sério – dizia – está ferrado, e tem o focinho branco.

Até que encontra, parado numa esquina, um vagabundo zombeteiro.

– Olá, senhor meu amo, – pergunta-lhe o pobre do matuto, aflito –

por aqui não passou o meu burrico, que tem o pé calçado e o focinho ruço?

– O seu burro, senhor, – responde-lhe o tratante, em tom de mofa – passou aqui, mas um Ministro o pegou e fez dele um Barão!

– Ó Virgem Santa! – exclama o caipira, tirando o chapéu – Se o tal Ministro me pilha desse jeito, Serei Conde, Marquês ou Deputado!