Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

OLHA A LÍNGUA!

Andava uma menina de oito anos a divertir-se em sua casa, pelo entrudo, em pregar rabos de papel nas pessoas, dando por fim, muito contente, uma surriada: “Rabo-leva! Rabo-leva!”

Acudiu logo a mãe ensinando-lhe política por este modo:

– Não fale em rabo, menina; não diga rabo-leva, diga traseiro-leva.


QUE AZAR!

Um velho hipocondríaco, que, cria sofrer de todas as enfermidades existentes; passava os dias às voltas com tisanas, escalda-pés, sangrias e emplastros; e toda vez que via passar um enterro, ordenava ao criado:

– Corre João, corre à igreja e indaga qual foi a causa que fez defunto, esse que vai ser encomendado.

Quando ficava sabendo de que morrera o infeliz, tomava-se de terror, e passava a sentir os sintomas típicos dessa doença.

Um dia, em que o sineiro, em toques funerários, anunciava que outro ser humano tinha passado desta para melhor; o velho, a rezar e a tremer, esperava ansioso o regresso do emissário.

– Foi uma mulher que arrebentou de parto, meu amo – informou-lhe o criado. – Três filhos que não vingaram!

E o velho então, encheu-se de preocupação e de desânimo:

– Veja só que maçada! Que trabalheira! Que vexame!… Eu, na minha idade, tendo que fazer força para dar a luz!


NÃO RECOMENDÁVEL

Certa vez o Visconde de Mauá foi à mansão de um empresário que se julgava muito importante. O homem, porém, não quis recebê-lo, e mandou dizer por um criado que estava viajando, e que não tinha uma data certa para o retorno.

Mauá então respondeu, com um tom de riso na voz:

– Quando o seu patrão voltar, diga a ele que não se esqueça de levar a cabeça na próxima viagem! Pois agora mesmo eu vi a cabeça dele espiando pela janela, e é muito perigoso andar-se sem a cabeça por aí…

BARATEAMENTO

Por uma rua da cidade seguia um vendedor de vassouras, carregado com a sua mercadoria, e aos gritos:

– Olha a vassoura! Olha a vassoura! Seis tostões uma! Dez tostões o par!

Eis que desemboca na rua, do lado oposto, outro vassoureiro:

– Olha a vassoura! Olha a vassoura! Quatrocentos réis uma! Seis tostões o par!

Com isso, o que chegou primeiro vai ao seu encontro:

– Como diabos pode você vender vassouras a seis tostões o par?  Olha que eu roubo a palha, eu roubo o barbante, eu roubo os cabos, e, no entanto, não posso vender a menos de sete tostões, duas!

– É simples! – diz o outro – Eu já roubo as vassouras prontas.

COINCIDÊNCIA

Um procurador recorreu a um juiz, reclamando que um alfaiate, seu vizinho, ria-se nas suas barbas sempre que ele passava por diante da alfaiataria. O magistrado perguntou ao alfaiate:

– Por que você ri quando passa o senhor procurador?

– Porque o senhor procurador tem se empenhado em passar em frente à minha casa, sempre que eu rio.

PARA LEMBRAR

Certo alfaiate, sempre que se aproximava a ocasião em que tinha de se confessar na igreja, aplicava tremenda sova na mulher.

Quando, um dia, lhe perguntaram a razão de tal barbaridade, ele explicou:

– É que muitas vezes eu não me lembro de todos os meus pecados, mas quando dou uma coça na Filomena, ela me recorda deles um a um.