Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
NEM ELE FOI POUPADO
Ao Bispo de Pernambuco que, na hora da morte, tentando o arrependimento tardio, lhe apresentava a imagem do Senhor Crucificado, com olhos cobertos de sangue, Gregório de Matos respondeu, num improviso extremo:
“Quando os meus olhos mortais
Ponho nos vossos divinos,
Cuido que vejo os meninos
Do Gregório de Morais!”
Tinham os meninos desse vizinho, olhos inflamados por oftalmia.
QUE TRATAMENTO?
Uma vez, um estúpido juiz de Igaraçú, em Pernambuco, fez um auto criminal contra um sujeito, porque o tratou por vós. Gregório de Matos, defendendo o réu, confessou o fato, que considerava inocente e arrazoou desta forma:
“Se tratam a Deus por tu
E chama a El-rei por vós
Como chamaremos nós
– Tu e vós e vós e tu…”
INJUSTIÇA
Empobrecido, Gregório de Matos recorreu à generosidade dos senhores de engenho, dedicando-lhes versos aduladores, como sempre fazia quando estava em situação difícil. Mas certa vez um deles censurou-o pelo estado de penúria em que se achava, dizendo que cada qual é autor da própria fortuna, colhendo sempre o que semear. Ao que o poeta respondeu:
– Não há dúvida, mas é de si desgraçado aquele contra quem se conjura a malícia, que de tudo lhe fazem um crime. Por exemplo, ali vem um boi. Ele só tem um corno, como estamos vendo. Mas se eu lhe chamar boi de um corno, Deus me livre da indignação do seu dono.
MAIS UM ALVO
Quando em 1682 o alcaide-mor da cidade, Francisco Teles de Menezes, começou a prender muita gente importante, e os navios que levavam caixas de açúcar para o Reino passaram a levar “mais queixas que caixas”, segundo um dito da época; Gregório de Matos não o perdoou e dirigiu-lhe um soneto com este final:
“(…)
Homem eu sei que foi vossenhoria,
Quando o pisava da fortuna a roda,
Burro foi ao subir tão alto clima.
Pois alto, vá descendo onde jazia
Verá quanto melhor se lhe acomoda
Ser homem embaixo, do que burro em cima.”
AJUDA
Sebastião da Rocha Pita, antes de ser senhor de engenho de Cachoeira e autor da História da América Portuguesa, foi alferes de Infantaria em Salvador e deu guarda em Palácio. Nesse tempo, dedicava-se à poesia, escrevendo maus versos.
De uma vez em que estava de guarda em Palácio, por ali passou Gregório de Matos. E o alferes aproveitou o ensejo para pedir-lhe uma pequena ajuda:
– Senhor Doutor – disse ele – estou com uma obra em preparo e quero que Vossa Mercê me dê consoante a este termo: “para mim”
E Gregório, que o tinha na conta de burro:
– Capim!
GREGÓRIO ESTAVA CERTO
Esse Rocha Pita, achincalhado por Gregório de Matos, bem que o merecia. Não contente com ser apenas um mau poeta, decidiu fazer-se historiador. Depois de muita pesquisa, inclusive compulsando documentos na Metrópole, produziu uma História do Brasil no mais puro non sense. São personagens de sua “História da América Portuguesa”, os heróis da mitologia grega, os santos do catolicismo; os profetas bíblicos e os filósofos da idade-média!… Os dados geográficos são também curiosos: segundo ele, nos limitávamos para o ocidente com a África, e éramos antípodas de Malaca…