Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’

DITADOS DO SÉCULO XVII

A célebre coletânea provérbios luso-brasileiros, de Antônio Delicado, registra vários provérbios de cunho humorístico, como estes:

  • Tenhamos o frango, então falaremos na salsa.
  • Andava na égua e perguntava por ela.
  • Quando se forem os hóspedes, comeremos o pato.
  • Melhor é o meu que o nosso.
  • Sacode o rabo o cão, não por ti, mas pelo pão.
  • Negócio em sociedade: dor de cabeça minha, e as vacas vossas.
  • Quem troca odre por odre, algum deles é podre.
  • A viúva rica, com um olho chora e com o outro pisca.
  • Lágrimas de herdeiros, risos secretos.
  • Não compres mula manca pensando que há de sarar, nem cases com mulher má, pensando que há de se emendar.
  • Castigar velha e tirar pulga de cão, perda de tempo são.
  • Ensaboar a cabeça de burro é perda de sabão.
  • Não há geração sem prostituta ou ladrão.
  • Quem tem doença: abra a bolsa (carteira) e tenha paciência (“paciente” vem de paciência)
  • Amor louco: eu por ti e tu por outro.
  • Um mesmo canivete me corta o pão e o dedo.
  • O que houveres de comer, não o vejais fazer.
  • Acudi-me cachopas (venham a mim garotas) que já tenho botas.
  • Miguel, Miguel, não tens abelhas e vendes mel.
  • Com latim, rocim e florim, andarás mandarim. (boa conversa, bom cavalo e dinheiro)
  • Amor de prostituta e convite de estalajadeiro, sempre custam dinheiro.
  • Quem anda em demanda, com o Diabo anda. (metido com advogados)
  • Quando em casa não está o gato, estende-se o rato.
  • Tal grado haja quem o asno penteia. (Tem gosto para tudo…)
  • Cuspo para o céu, cai-me no rosto. (Colhe-se o que se planta)
  • Tenho ovelhas, não tenho orelhas. (Ovelhas fazem barulho; para tudo é preciso sacrifício)
  • Quem com os cães se deita com pulgas se levanta. (Quem anda em más companhias)
  • Tirar as castanhas do fogo com a mão do gato. (Aproveitar-se de outrem)
  • De noite à (luz da) candeia, a burra parece donzela.
  • O hóspede e o peixe, aos três dias fedem. (Visita que não vai embora…)
  • O que me deves me paga, que o que eu te devo não é nada.
  • Neste mundo mesquinho, quando há para pão não há para vinho.
  • “Alfaiate mal vestido, sapateiro mal calçado.” (em casa de ferreiro…)
  • Quem para si não sabe, não ponha escola.
  • “Cacarejar e não pôr ovo.” (Falar muito e fazer pouco)

COERÊNCIA

Antônio Vieira teria no máximo seis anos, porque o fato deu-se em Lisboa e ele viria para o Brasil em 1614. Um cônego, no adro da antiga Sé, conversava com o menino e quis saber de quem ele era filho:

– De quem sois, meu menino? – disse ele.

– Devo ser de vossa mercê, pois que me chama de “seu” – respondeu o garoto, com muito atrevimento.

OLHO POR OLHO

Um homem foi reclamar ao vizinho que o cão deste havia mordido a sua mulher. O vizinho respondeu:

– Muito bem, faça-se justiça. Consinto que a tua mulher morda o meu cão.

TEIMOSA

Uma mulher turrona insistia em chamar o seu marido de “piolhento”, deixando-o furioso. Não adiantava que ele, pedisse, implorasse, ameaçasse, ou – afinal –  lhe aplicasse tremendas surras. Ela continuava chamando-o: “Piolhento!… piolhento!…

Até que um dia ele perdeu as estribeiras, e a atirou dentro de um poço.

A mulher submergia e vinha à tona várias vezes, e a cada vez que vinha a tona, gritava: “Piolhento!”

Antes de morrer afogada, ficou ainda uns segundos apenas com as mãos fora d’água. Mas esfregava as unhas dos polegares um no outro, fazendo o gesto de quem esmaga piolhos…

QUEM SABE, SABE

Um campônio foi consultar um velho erudito sobre algo que muito o intrigava. O sábio, curvado, com grossos óculos, o recebeu em sua vasta biblioteca, onde compulsava grosso alfarrábio.

– Senhor doutor, – disse o camponês – há uma coisa que não me sai do bestunto, e que só o senhor poderá me responder: Por que, se há galinhas brancas, galinhas pretas e galinhas cinza; não as há vermelhas, amarelas ou azuis?

– Ah, meu bom homem: isso é porque não é a moda.

DIGA-ME MAL

O poeta satírico D. Tomás de Noronha ( ? – 1651), ironizando de um médico incompetente, que em tudo o que prognosticava errava, escreveu:

                        “Ó praza a Deus que este tal

                        Diga de mim que estou mal

                        Para eu cuidar que estou bem.”