Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
O SR. PAPAGAIO
O velho “Café Papagaio” (café, restaurante, bar e tabacaria), aconchegante e simples, era o ponto de encontro da boêmia intelectual do Rio de Janeiro. Marques, lusitano gordo e com imensa bigodeira a “guidão de bicicleta”, óculos de cordão e ar sisudo, é o proprietário.
Certa noite, uns estudantes, que freqüentavam o “Papagaio” pela primeira vez, vêem-se sem dinheiro para pagar a despesa. Consultam então um dos ocupantes da mesa ao lado, que demonstrava intimidade com a casa. E logo quem? Paula Nei!…
Nei prontamente os aconselha, na maior seriedade:
– Estão vendo aquele cidadão no balcão, lá ao fundo? Pois é o Sr. Papagaio, o proprietário; falem com ele que tudo se arranja.
Um dos estudantes então se dirige a Marques e fala, respeitoso:
– Sr. Papagaio, desculpe… Sabe o que é, Sr. Papagaio…
Marques o olha curioso, de cenho franzido…
– Como o Sr. Papagaio talvez saiba, nós somos estudantes…
Conta o que consumiram, da surpresa de se encontrarem sem um centavo. Marques, cada vez mais amarrava a cara, já se irritava com tanto Papagaio, que ele não sabia se era dito por ignorância ou por troça. Afinal, não se conteve mais: vermelho de fúria, explodiu dando tremendo murro no balcão:
– Irra, que eu não me chamo Papagaio! Deixem-me de pagar o raio da despesa, e vão para o diabo! Mas não me troquem o nome! Tudo menos isso! Chamo-me Marques, como meu pai, como meu avô… Não tenho aves na família!…
OS RATOS
Um príncipe sonhou de noite que viu três ratos, um gordo, outro magro e outro cego. Na manhã seguinte mandou vir uma cigana que havia na cidade, para lhe fazer a explicação desse sonho extraordinário.
– Nada é mais fácil, – lhe diz a cigana. – O rato gordo é o vosso primeiro ministro, o rato magro é o vosso povo, e o rato cego sois vós, meu príncipe.
PAGOS
Dois lavradores armaram uma disputa ao saírem da missa, e no calor dela um deu no outro um bofetão. O ofendido foi dali mesmo queixar-se ao juiz, o qual fez logo conduzir à sua presença o culpado. Depois dos necessários interrogatórios, convencido o agressor da verdade do fato, foi condenado a pagar seis reais ao ofendido por indenização da afronta.
– Seis reais por um bofetão! – disse o sentenciado.
– Sim, senhor, – respondeu o juiz. – É justamente o preço que a lei manda pagar por tal ofensa.
– Bem, estou conforme.
E tirando da bolsa doze reais, pregou no juiz um bofetão bem puxado, apresentando-lhe logo o dinheiro:
– Aqui estão doze reais, – lhe disse – estão ambos pagos.
LÁ É OUTRO
Um janota, natural de São Paulo, conhecido pela sua impavidez, e ainda mais pela sua ignorância crassa, presumia saber tudo. Achando-se um dia em Porto Alegre, e olhando para o Guaíba, perguntou a certo indivíduo que estava a seu lado, como se chamava aquele rio.
– É o Guaíba – respondeu o outro admirado da pergunta.
– Ora veja vossa senhoria portanto como as coisas são, – acrescentou o janota muito admirado – lá na minha terra chama-se a isto Tietê.
TAMBÉM ERA FILHO DE DEUS
Um indivíduo pouco instruído, entrando um dia em casa de um filósofo, encontrou-o sentado à mesa comendo bolos de mel e doces muito delicados.
– Com que então, – disse o ignorante – também os filósofos gostam de guloseimas?
– E por que não? – respondeu aquele – acaso julgais porventura que a Providência fez os bons bocados só para os tolos?
MODA FUGAZ
Mandando uma senhora, muito dada às modas, buscar pelo seu criado um chapéu à sua modista, este desempenhou o encargo, e voltando com o chapéu na caixa, um seu patrício convidou-o beber um quartilho de vinho.
– Não, amigo, – replicou o criado – não posso, que levo aqui para minha ama um chapéu a toda a pressa, e tenho medo, se me demoro, que quando chegue a casa já a moda tenha passado.