Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
OUTRO MALANDRO
Um padre passava todas as noites junto ao tapete verde da roleta, e o jogo se lhe insinuara de tal forma no espírito, que parecia obsessão.
Certa manhã, após uma noitada de azar negro, o padre estava a rezar missa; porém as suas idéias não saíam da roleta; na cachola girava-lhe incessantemente uma bolinha de marfim estonteada a cabriolar doidamente, indicando grandes números pretos e encarnados.
Em um dominus vobiscum, o sacerdote sonolento, equivocando-se, proferiu com toda a unção religiosa:
– Número vinte e sete!
O sacrista, gente da mesma estola, também vítima da roleta, respondeu no mesmo tom, de mãos postas e cabeça baixa:
– Trinta e cinco fichas!
AINDA INSISTE
O General Belizário Porras y Porras, foi enviado ao Brasil como embaixador do Panamá. Ao chegar, (sem que suspeitasse do escabroso significado de seu sobrenome), foi recebido pelo Introdutor de Embaixadores. Este, uma vez tendo o instalado no hotel, correu a dar conta do nome do novo diplomata ao Barão de Rio Branco; à frente dos Negócios Estrangeiros do Brasil.
Rio Branco, ao saber do sobrenome do panamenho, levantou-se com manifestas mostras de mau humor e desagrado, e começou a caminhar nervosamente pelo gabinete. O Introdutor de Embaixadores, que seguia seus passos pacientemente, atreveu-se a perguntar-lhe:
– E o que acha o senhor deste sobrenome, “Porras y Porras”?
– Que por uma vez é mau, mas passa; o que não posso tolerar é essa insistência!
PEDIDO DE EXPLICAÇÃO
Certo jornalista, depois de muito injuriar a Martim Francisco, que não dera a mínima resposta, estampou, no seu pasquim, um asno a escoicear, cuja cabeça era a de Martim. O Andrada retrucou-lhe com um de seus bilhetes de estilo telegráfico: “Indago do motivo pelo qual, em sua folha do dia tal, saiu a minha cabeça sobre o corpo de V. Excia…”
POQUE NÃO POSSO…
Um advogado, a quem Martim Francisco ia levando, numa causa, de canto chorado, perguntou ao ilustre causídico santista, irritado:
– É verdade que o Senhor anda falando mal do meu cliente, para todo o mundo?
– Para todo o mundo…, não, porque não conheço todo o mundo; senão falava…
COMPARTILHANDO
Noutra causa em que tanto o réu quanto a vítima eram escreventes de um mesmo escritório, e Martim Francisco defendia a tese de que o crime ocorrera como vingança pela traição da mulher do primeiro com o segundo, ele declamou os seguintes versos de Curvo Semedo:
Certo escrevente casado
Tinha em casa por dinheiro
Outro escrevente solteiro;
Houve entre eles grande enfado
E de murros um chuveiro,
Mas por causa bem pequena:
Foi por molharem a pena
Ambos no mesmo tinteiro.
PÉ POR MÃO
Certo dia, em assembléia política, um orador fez comentários deselegantes à Martim , cuja lealdade correligionária punha em dúvida.
– A notícia da defecção não a tenho em primeira mão – anunciou o acusador.
– É perfeitamente exato! – retrucou Martim Francisco. – Não a tem em primeira mão e sim ao quarto pé!