Arquivo da Categoria ‘Origem de Ditados, Vocábulos e Termos de Gíria.’
DOR DE COTOVELOS
Mágoas causadas por amores frustrados, desilusão amorosa. Alude ao fato de os contrariados no amor, freqüentemente costumarem ficar com os cotovelos fincados na mesa de um bar, curtindo sua tristeza. E também as mocinhas (chamadas de “janeleiras” no século XIX), que ficavam com os cotovelos apoiados no peitoril da janela, olhando melancólicas para a rua, na esperança de ver o namorado surgir. A uma destas, a amiga tentou consolar, dizendo: “Calma, tudo passa na vida…” Ao que ao outra respondeu: “Sim, tudo; menos ele!”
LÁGRIMAS DE CROCODILO
Tem o sentido de falsidade, hipocrisia. Tal expressão, utilizada no mundo inteiro, vem do fato de os crocodilos, quando estão devorando suas presas, fazerem pressão no céu da boca, estimulando suas glândulas lacrimais. Dão assim a falsa impressão de estarem chorando.
Piada dos anos 40 do século passado: Um homem seguia pela beira de um rio, quando, de repente, deu de cara com um enorme crocodilo. O sujeito percebeu que o animal estava com a barriga inchada, e que seus olhos vertiam copiosas lágrimas. Ele então começou a raciocinar em voz alta:
– Pobre bicho. Parece que está doente. E deve estar sofrendo muito para chorar desta maneira!
– É verdade – concordou o jacaré (era um jacaré falante, o danado…). – Estou inconsolável! Imagine que há pouco virou ali adiante uma canoa com três inocentes criancinhas, …e eu só pude comer duas!
CHEIO DE NOVE HORAS
Cerimonioso, cheio de cuidados. Durante muitos séculos, nove horas era a hora limite para a permanência das visitas, imposta pela norma da boa educação. A visita cerimoniosamente poderia dizer: “Já são nove horas, é hora de eu ir”. Ao que responderia o anfitrião, por educação: “Já? Não, ainda é muito cedo”. A esse respeito Antônio Delicado, na sua coleção de provérbios portugueses, no século XV, registra: “Às nove, deita-te e dorme”.
CASA DE GONÇALO
Casa onde o marido é dominado pela mulher. Antônio Delicado, na sua coletânea de adágios portugueses registra: Em casa de Gonçalo, mais pode a galinha que o galo. Gregório de Matos e Guerra (1636 – 1695), queixando-se injustificadamente da mulher, afirmava ser a sua casa de Gonçalo. Coitada; quando saiu de casa para escapar dos maus tratos, Gregório mandou buscá-la amarrada, conduzida por um capitão-do-mato, como escrava fugida.
CANTAR DE GALO
Mandar, dar as ordens. O termo vem do fato do galo ser o senhor plenipotenciário do galinheiro (só não tem poder de vida e morte; quem tem é a cozinheira…). O termo já aparece na obra “Adágios portugueses reduzidos a lugares comuns”, de Antônio Delicado, publicado em 1651; embora dirigido à crítica dos lares onde a mulher manda mais que o marido: Triste casa onde a galinha canta e o galo cala.
A VACA FOI PARA O BREJO
O brasileirismo tem o sentido de surgimento de complicação, acidente, dificuldade imprevista. Há pelo menos duas explicações para a expressão, ambas de origem na agropastoril: Uma atribui o dito ao aborrecimento, sentido pelos vaqueiros ao constatarem que uma rês meteu-se num atoleiro, prevendo a trabalheira que dará retirá-la; outra acredita que a expressão deva-se fato de que quando a seca torna-se mais severa, os animais começam a procurar os brejos, regiões que permanecem alagadas por mais tempo.