Arquivo da Categoria ‘Origem de Ditados, Vocábulos e Termos de Gíria.’
CHULÉ
Mau cheiro nos pés. Há quem afirme que a palavra é de origem africana, mas na verdade vem do termo latino solea, a sandália de couro dos soldados romanos. Nas longas caminhadas que faziam as tropas romanas, ela ficava com um cheiro horroroso, o que deu origem ao termo. Com o passar do tempo, a palavra foi passando por alterações na Península Ibérica. Os portugueses foram mudando o termo, inicialmente para chuli, depois para chulo, até dar no atual chulé.
MATAR CACHORRO A GRITO
É um termo de gíria que significa estar totalmente desprovido de recursos para enfrentar uma dificuldade. Vem da situação do sujeito que é atacado por cães e que não dispõe de nada para se defender; nem uma arma, um porrete, uma pedra. Só lhe resta tentar assustar os cães com gritos!… Há uma anedota do século XVI, do sujeito que adentrando uma cidade estranha, é atacado por cães ferozes, e tenta inutilmente arrancar uma pedra do chão, para se defender, exclamando: “Maldita cidade esta, em que os cães estão soltos e as pedras estão presas!” Matando cachorro a grito, é aplicável tanto ao sujeito que não tem um centavo no bolso, quanto à moça que não consegue namorado, por exemplo.
CABRA DA PESTE (CABRA DA MOLÉSTIA)
Houve época no Brasil, que quem tivesse algum sangue negro nas veias, era chamado bode ou cabra . Assim, o birrento governador do Maranhão de 1806 a 1809, Francisco de Melo Câmara, por ter a tez amorenada, foi alcunhado O Cabrinha, pela população que o detestava. Além disso, em Portugal já havia o termo cabrão, para designar homem mau, criminoso, safado. Assim, as volantes que combatiam os cangaceiros no final do século XIX e início do século XX, os chamavam de cabras da peste, com intenção altamente ofensiva, de degradação racial e moral. Hoje, contudo, no Nordeste o termo passou a ter conotação positiva, de homem valente, perigoso, forte. Se no passado chamar alguém de cabra da peste era provocação de briga, hoje muitos nordestinos batem no peito e proclamam-se com orgulho: “Eu sou um cabra da peste!”
COLOCAR UMA PENINHA
Significa complicar; introduzir uma dificuldade adicional, e desnecessária, num problema qualquer. Expressão muito usada ao referir-se a questões de provas escolares, em que o professor coloca uma peninha, para dificultar. A expressão de gíria brasileira provém de uma conhecida anedota dos anos 30 do século XX.
Um sujeito propôs a outro esta adivinhação: “Qual é o bicho que tem quatro pernas, come ratos, mia, passeia pelos telhados e tem uma peninha na ponta da cauda?” Está claro que ninguém adivinhou.
– Pois é o gato – explicou ele.
– Gato com peninha na cauda?
– Sim. A peninha está aí só para atrapalhar.
CAVALO DADO
Se origina do ditado: de cavalo dado não se olham os dentes; que vem de tempos imemoriais. Sempre foi hábito examinar o estado dos dentes de cavalo que se cogitava comprar, por ser a maneira mais fácil de verificar a idade do mesmo. O grisalho do pelo pode ser camuflado com tintura, mas os dentes dos cavalos sofrem desgaste provocado pela areia e os pedriscos, que o animal morde junto com a grama. Contudo, o anexim afirma não ser de bom-tom fazê-lo, quando o cavalo foi dado de graça. O termo é aplicado de forma genérica: ao concedido de boa-vontade, não se fazem exigências.
COIRUJICE (MÃE CORUJA, PAI CORUJA, VÓ CORUJA, ETC.)
É um termo que significa enxergar nos filhos só aspectos positivos, mais inteligentes ou mais bonitos do que de fato são. O termo provém da seguinte fábula:
A coruja sabia que a onça andava devorando os filhotes dos animais da floresta. Assim, como dava-se bem com ela foi falar-lhe:
– Comadre, eu queria lhe pedir um favor. Sei que você lambe-se por um filhote, mas gostaria que você poupasse os meus!
– Com certeza! – respondeu a onça. – Afinal somos amigas. Mas diga cá, comadre: e como é que eu vou reconhecer os seus filhotes?
– Ah, – retorquiu a coruja, sorrindo embevecida. – Isso é muito fácil! Os meus filhotes são os animaizinhos mais lindos! Dentre todos os filhotes da mata, os meus são os mais bonitinhos!
– Pois então, fique tranqüila, – respondeu a onça. E saiu a caçar. Lá pelas tantas, deu de cara com as corujinhas, e até levou um susto. Aqueles bichinhos horrorosos – olhos esbugalhados, cabeça enorme, bico ridículo, emitindo pios esganiçados… Pensou a onça lá com seus botões (onça tem botões?): “Que coisinhas mais feias! Bom, estes certamente não são os filhos da comadre”. E nhac, os devorou.