Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

CANTO DO CUCO

Acredita-se em Portugal que o cuco é uma ave cujo canto anuncia coisas ruins, a quem tem a desgraça de ouvi-lo.

Dois camponeses iam juntos para a cidade, e como sucedesse ouvirem cantar um cuco no caminho, discutiram sobre qual deles era o infeliz, a quem o pássaro dirigia o seu canto de mau agouro. Querendo cada um lançar ao outro o azar, decidiram consultar um advogado, apenas entrassem na cidade.

 O advogado, logo que os rústicos lhe disseram que iam fazer-lhe uma consulta, exigiu de cada um doze tostões, antes de ouvi-los. Os homens deram prontamente o dinheiro e entraram a falar do canto do cuco.

Escutava-os o doutor com uma calma admirável; e depois que se fartaram de parolar, disse-lhes ele:

– Meus senhores, o cuco cantou na verdade contra ambos, e só cantou a meu favor, porque embolsei 2400 réis, quando menos esperava. Agora vão com Deus!…

DEDICATÓRIA

José Agostinho de Macedo foi padre da Ordem dos Eremitas de S. Francisco. Mas, vivia fugindo do convento para meter-se em orgias impróprias aos seus votos. Era castigado e preso nos calabouços da ordem, sem resultado.  Vivia bêbado, fez-se amante de uma freira e  foi várias vezes condenado pela justiça por desmandos e roubos. Por fim, arrancaram-lhe o hábito e expulsaram-no da Ordem em 1792 – pois seus superiores concluíram que ele era “contumaz e incorrigível”.

Macedo publicou a obra satírica “Os Burros”, que traz a seguinte dedicatória ao Geral dos Bernardos: “Vossa Reverendíssima não só é um pedaço de asno, mas uma conhecida besta, um acabadíssimo burro e perfeitíssimo jumento, de quem se confessa seu sincero tangedor J. A. M.”.

ENTENDEU?

Certo oficial, mais rombudo de inteligência do que um frade de pedra, assistia certo dia a uma instrução de recrutas; como um dos novatos não executasse a preceito o “esquerda volver” ele apostrofou-o da seguinte forma:

– “Esquerda volver”, seu estúpido, é o mesmo que “direita volver”, com a diferença de ser exatamente o contrário!

NEM TUDO

Elisa, profundamente desgostosa porque o namorado que andava sempre a passar-lhe por baixo da janela, não aparece ha quinze dias, exclama:

– Como sou infeliz!

Uma amiga, para tranqüilizá-la, diz-lhe:

– Não se aflija rapariga… Tudo passa neste mundo.

– Pois sim… – responde Elisa, suspirando. – Tudo passa… menos ele!

SANTOS EM FUGA

Em 1770, malfeitores indianos fizeram saques nas proximidades de Goa. Reagindo, o vice-rei D. João José de Melo organizou duzentos homens, escolhidos a dedo, e dois generais intrépidos: São Francisco Xavier e Santo Antônio!  O tenente-coronel Manuel Tinoco recebeu determinação expressa de cumprir à risca as ordens desses “generais”! 

O destacamento marchava em som de guerra, quando viram o inimigo. Mal este disparou um tiro,… dispararam os portugueses em fuga – abandonando santos, armas, bandeiras e tambores!

Quando o tenente-coronel Tinoco retornou a Goa, foi preso e levado a julgamento militar. O julgamento foi fantástico!
Verificado, sem sombra de dúvidas, que os dois generais, seus superiores, não tinham dado quaisquer ordens para que resistissem, o Tribunal considerou justificada a fuga de Tinoco, absolvendo-o por completo!

S. Francisco e Sto. Antônio não foram ouvidos…

ECO

Uns sujeitos falavam de eco. Um dizia que o de Verdun, na França, repetia o som 12 vezes. Outro falava de ecos extraordinários na Inglaterra, na Suíça… Até que um sujeito respondeu:

– Que lá é isso? Eco é o que conheci na minha terra. A gente perguntava: “Eco, como estás?” e respondia logo: “Muito bem, obrigado.”