Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

ERRATA

O poeta Bocage acabara de almoçar numa taberna quando, vendo que lhe serviam uma maçã podre de sobremesa, chamou o criado de servir e lhe disse:

– Na lista que me foi apresentada, há um erro…

– Não percebo… – respondeu o criado.

– Onde está “comidas variadas” deviam ter posto “comidas avariadas”…

ASTRONOMIA SÉCULO XVIII

Sustentava um idiota em uma assembléia que o Sol não girava à roda do mundo.

– E como pode ser isso? – instaram com ele, – se tendo-o nós visto pôr no Ocidente, o vemos tornar a nascer no Oriente, se não passa por baixo de nosso globo.

– É forte dificuldade – lhes retrucou o ignorante enfatuado, – torna pelo mesmo caminho, se o não vêem é porque anda de noite.

 

ENQUANTO É TEMPO

Certo dia o Marquês de Maricá estava à mesa, quando recebeu uma participação de casamento.

– Vamos, marquesa, – disse, pondo-se de pé; – vamos quanto antes dar os parabéns aos noivos. Bom será que seja hoje mesmo!

– Hoje, marquês? Por que tanta pressa?

– Para não acontecer o que sempre acontece; isto é, dar-se os parabéns quando os noivos já estão arrependidos!…

TROCA

O Conde da Cunha era desabusado e violento, sem prejuízo dos seus sentimentos de justiça. Administrava ele um dia em pessoa as obras do palácio dos governadores, quando viu subir o morro da Conceição um gordíssimo comerciante, esparramado numa cadeirinha carregada por quatro franzinos negros, que suavam e bufavam sob o peso formidável do senhor.

Mandando parar a liteira, o Conde intimou o comerciante a deixá-la:

– Saia!

E ordenando a um dos escravos mais fatigados:

– Entre, você!

E para o comerciante:

– Agora, pegue ali no pau com os outros, e carregue o preto!

O comerciante obedeceu, que ele não era bobo nem nada…

JOÃO PREGUIÇA

Um sujeito tremendamente preguiçoso, amanheceeu morto. Os parentes, amigos e vizinhos, colocaram o corpo num caixão e seguiram para sepultá-lo no cemitério. No caminho, o padre verificou que o preguiçoso ainda vivia. Um vizinho lhe disse:

            – Isso é fraqueza. Vamos levá-lo de volta para casa e dar-lhe um bom prato de arroz!

            O indolente, com voz débil, resmungou:

            – Mas é arroz com casca, ou sem casca?

            – Com casca, com casca…

            – Nesse caso, não quero. Toquem para o cemitério…

CALE O BICO

Um português, seguindo por um caminho, no Brasil, encontrou uma bolsa de moedas, perdida por algum viajante. Apanhou-a, com um sorriso velhaco. Mas, ao metê-la no bolso, ouviu um grito vindo de umas árvores:

 – Bem te vi!

Não conhecendo esse pásaro, e supondo que se tratasse de voz humana, disse:

Pois, se vem me biste, cale o vico!