Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

TOMA LÁ, DÁ CÁ

Um larápio vendo entrar para o teatro um provinciano, que tinha metido uma caixinha de ouro na algibeira da casaca, seguiu-o com a esperança de lha furtar, e para melhor atingir o seu intento, sentou-se por trás dele. Acabado o primeiro ato, cortou-lhe a aba da casaca onde o outro tinha a caixa; porém tendo-o este percebido, puxou de uma navalha, que casualmente tinha comprado naquela tarde, e tomou tão bem as suas medidas, que cortou uma orelha ao larápio.

Este desandou a gritar:

– Ai a minha orelha! A minha rica orelha!

E o provinciano:

– Ai a minha caixa! A minha rica caixa!

– Tome lá a caixa! – disse então o larápio ao provinciano.

– E tome lá a orelha! –respondeu o outro, atirando-a à cara.

DOENTE BRINCALÃO

Apresentando-se uma manhã um doutor em casa de um dos seus doentes para o ver, deteve-o o porteiro dizendo-lhe que era inútil subir, visto que o enfermo tinha expirado naquela noite. Ao que o doutor exclamou:

– Pois ele morreu? Grande pândego!


MELHOR AINDA

Certa devota tinha feito uma novena a Santo Inácio para obter, pela interseção deste santo, a conversão de seu marido. Porém morrendo este dali a oito dias, exclamou ela:

– Como é grande a bondade deste santo! Concede ainda mais do que se lhe pede!

CONDECORADO POR NADA

O governador-geral de Cabo Verde, D. Antônio Coutinho de Lencastre, mandou um oficial ao Rio de Janeiro para comunicar que ele tinha ordenado a construção de um forte, que defendia perfeitamente a povoação, e exagerando as coisas de tal modo que recebeu louvores e uma condecoração do Soberano.

O secretário do governo, depois de expedida a correspondência, advertiu o governador que tal forte não havia, ao que o governador respondeu:

– Admiro-me do vosso curto discernimento! Não sois capazes de antever que quando o ofício chegar ao Brasil, já estará pronto o forte que passo a mandar construir?

Na verdade o tal forte não ficou pronto quando do retorno do emissário com a comenda, demorando ainda alguns meses para ser concluído. E ficou tão mal feito e inútil, que o sucessor de Coutinho de Lencastre mandou derrubá-lo.

QUEM NÃO RI É BURRO

O cardeal Richelieu acreditava ser o dom de fazer graça, “a mais brilhante prerrogativa do homem”; Camilo Castelo Branco foi mais longe ao dizer que “O que nos alegra, – seja poema ou tolice, – é sempre um raio de misericórdia divina. A seriedade é uma doença, e o mais sério dos animais é o burro”.

Em uma conferência, Olavo Bilac contou o episódio de certa viagem em bonde tracionado por burros, em que todos os passageiros e o condutor, foram acometidos por um ataque de riso. Diz, ele, referendando o parecer de Camilo: “Só não riam os burros! – porque, decididamente, parece que, em toda a criação, o burro é a única criatura que é incapaz de rir…”

E ELE?

Aí por 1869 encontravam-se numa audiência, com o Papa Pio IX, um oficial general da armada portuguesa, com o seu ajudante, um primeiro tenente da armada.

Dirigindo-se à Sua Santidade no seu trono, o oficial general dobrou o joelho e humildemente beijou-lhe o pé.

O tenente, ao ver semelhante homenagem, voltou as costas e saiu. Quando o general se voltou, ficando surpreso por o não ver.

Depois de ligeira conversa com Pio IX, saiu e, cá fora, perguntou ao tenente, espantado:

– Que foi isto? Por que saiu você desta maneira? Algum incômodo certamente?

– Não, meu comandante – respondeu o tenente – é que ver que vossa excelência, oficial general, tinha que beijar o pé daquele homem, imaginei o que, na minha qualidade de tenente – eu tinha de lhe beijar?  O c..!