Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

VIGARICE INSTITUCIONALIZADA

O “encilhamento”, que foi apresentado como a solução de todos os males, levou o país ao caos econômico. Foi um fenômeno de apostas e jogos – na bolsa de valores – em que se transformou a política de emissão de moeda, por parte do governo federal, que na gestão de Rui Barbosa no Ministério da Fazenda, chegou a ter 80% de papel moeda sem lastro que as garantisse!…

A inflação e o sentimento de que tudo não passava de vigarices e vigaristas, tomaram conta da população e da imprensa.

A respeito da febre especulativa do “encilhamento”, Machado de Assis escreveu: Quem não viu aquilo não viu nada. Cascatas de idéias, de invenções, de concessões, rolavam todos os dias, sonoras e vistosas para se fazerem contos de réis, milhares e milhares de contos de réis.

XÍCARAS INFLACIONÁRIAS

Com o “encilhamento” a inflação e o custo de vida foram às alturas, uma vez que os produtos importados dominavam o mercado.

Uma das muitas anedotas que havia na época a respeito da inflação, era aquela do freguês que reclamava do preço abusivo do cafezinho, sendo o café o produto agrícola mais abundante no Brasil, levando o bigodudo lusitano atrás balcão, a justificar:

– O café é nacional, mas as xícaras são importadas!

É O VASQUES

Vasques, o ator cômico mais popular no tempo do Império, num certo Carnaval, para intrigar a própria família e os amigos, mandou fazer um dominó cheio de babados, que o tornava irreconhecível. E, para garantir o sucesso, foi vestir-se em casa de um amigo.

Mal saiu à rua, ouviu logo: “Este é o Vasques”.

Aturdido, desanimado e desconfiado, continuou a caminhar, já sem entusiasmo, e por onde passava ouvia sempre: “Este é o Vasques”.

Envergonhado e desiludido, voltou à casa do amigo e verificou que este havia pregado às costas da fantasia, um papel que dizia: “Este é o Vasques”.

COM A REPÚBLICA…

Olavo Bilac escreveu numa crônica: (…) Sou também cioso dos meus direitos: quero saber por quem vou ser governado. Pelo Povo. Bem. Vejamos o que é o povo. Oito horas da manhã. Abro a janela. Aqui está o povo diante de mim. Um quitandeiro. Preto. Tem talvez cinqüenta anos, tem frutas de todas as espécies (…) Chegou, encostou à parede o tabuleiro: devo perguntar-lhe qual a sua opinião sobre o direito público federal?

TERRORISTA AVÍCOLA

Proclamada a República, imediatamente começou uma era de revanchismo e perseguições políticas, onde não faltou o ridículo.

Constou no Rio que alguns conspiradores projetavam fazer voar, pela dinamite, o túnel grande da estrada de ferro Central do Brasil. E, como era preciso atribuir a alguém a concepção do atentado, ela foi logo atribuída a Emílio Ruède, um pacato criador de galinhas.

O raciocínio cartesiano dos sábios da Polícia Secreta deverá ter sido este: “O dinamitador pretende fazer voar tudo pelos ares! Ora, quem voa pelos ares são as aves. Galinhas são aves; logo, o dinamitador é um criador de galinhas! Claro como água…

TÍPICO

O barão “X” é pessoa grave e séria, mas de atraso estupendo em qualquer assunto literário.

Uma vez à mesa da viscondessa “C”, esta como o visse muito calado, quando todos falavam de literatura, disse-lhe:

– Gosta de Victor Hugo, Sr. barão?

– Sim, minha senhora. Aceitarei uma perninha, mas sem molho.