Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
DE JOGADORES
Certo jogador já arruinado jogava jogo farto, e perdia mais de vinte cartas, que punha no jogo.
– Ora isto, – gritava ele – é coisa que somente a mim sucede!
Uma mulher compadecida desta perda mostrava condoer-se dele, mas ele lhe respondeu:
– Não tenha dó de mim, mas sim dos meus credores, que são os que perdem.
Outro jogador, em situação semelhante, exclamava:
– Ah Fortuna! Tu fazes com que eu perca, mas eu te desafio a me obrigares a pagar.
SABE-SE LÁ QUANDO
Certo homem, tendo bebido muito, levantou-se da cama onde estava com sua mulher, e foi urinar à janela. Chovia, e ele ouvia a água que caía de uma biqueira e, achando que era ele que fazia esse barulho, ficou assim muito tempo.
Por fim a mulher gritou-lhe:
– Então, não acabas?
– Ah! – respondeu o bêbado, – acabarei quando Deus quiser!
AMAR É CRER
Uma dama foi apanhada em flagrante pelo seu amante, em colóquio amoroso com o seu rival. E teve o desplante de negar um fato de que ele próprio era testemunha.
– Mas que? – lhe diz ele – E tendes ousadia tamanha de me negar?…
– Pérfido, – chamou-lhe ela – agora vejo que não me tens amor, pois que acreditas mais no que estás vendo, do que no que eu te digo.
QUESTÃO DE PRIORIDADE
Um camponês fora consultar um oculista, e achou-o à mesa, bebendo muito.
– Que remédio hei de fazer nos meus olhos? – perguntou-lhe o camponês.
– Para começar: nada de vinho. – respondeu-lhe o oculista.
– Mas a mim está me parecendo, – replicou o rústico chegando-se para ele, e vendo que o médico também tinha os olhos inflamados – que os seus olhos não estão melhores do que os meus; contudo vossa mercê bebe, e bebe bem!
– Sim, – respondeu-lhe o médico. – porque não estou querendo curar-me dos olhos; estou querendo beber.
SENTENÇA JUDICIAL
O Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para 1871 registra, que a um juiz ordinário do século XVIII, foram entregues uns autos para ele dar a sentença; mas como o tal juiz era demasiadamente ordinário e não sabia como desenvolver-se, lavrou o seguinte no processo: “Visto que estes autos se acham tão intrincados como trezentos diabos, mando que lá as partes se avenham, e não me aborreçam!”.
ATÉ O FIM
Um velho era muito avarento nas despesas da casa, e numa coisa era fanático: se haviam duas achas de lenha queimando no fogão, tirava uma; se via duas lamparinas acesas, apagava uma; se via duas velas ardendo, onde uma bastava, fazia o mesmo. Um dia adoeceu, e não havendo esperança, e estando in extremis, o filho acendeu-lhe uma vela, e entregou-a a ele, dizendo:
– Pai, peça perdão a Deus!
Respondeu o velho, num fio de voz:
– Eu pedirei, sim, meu filho. Mas não te esqueças de uma coisa: assim que eu entregar a alma a Deus; por favor, apague a vela!