Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
VISÃO BENIGNA
Em poemas como este, Gregório de Matos descreveu o que era naquele tempo a cidade da Bahia:
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha
Para levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
Ó LÍNGUA!
Gregório de Matos tinha 47 anos quando voltou ao Brasil sob a proteção do arcebispo da Bahia, D. Gaspar Barata. Tantas e tais fez Gregório de Matos na Bahia que não só perdeu a proteção daquele prelado, como ainda foi degredado para Angola.
O degredo deveu-se à excessiva agressividade ao governador, cujo filho, Antônio da Câmara Coutinho, apareceu na Bahia disposto a matá-lo. D. João de Lencastre, admirador do poeta, evitou que tal acontecesse despachando-o para Angola. E lá partiu ele destratando a Bahia:
“Adeus praia, adeus cidade,
Agora me deverás,
Velhaca, o dar eu a Deus
O que devo ao demo dar,
(…)”
SÓ MEIA VOLTA
O padre Antônio Vieira conversava com outro religioso, quando passou o venerável padre Antônio das Chagas.
– Este homem deu uma volta inteira à sua vida! – observou o interlocutor de Vieira, referindo-se à vida ascética desse grande irmão, começada com um assassinato por amor.:
– Deve ter dado só meia volta, – brincou Vieira – ou então retornava ao ponto de partida, e ficava na mesma!…
SALVA-VIDAS
Diziam de um comerciante não muito inteligente, que certa vez viajava a bordo de uma caravela que enfrentava uma terrível tempestade. Percebendo que, ante o naufrágio iminente, cada um dos passageiros se agarrava a um objeto flutuante, ele abraçou-se… a uma das âncoras.
NÃO DESPERDIÇAR A COMIDA
Na época da escravidão, a cultura africana, mesmo dos povos mais primitivos, cultuava o riso. Toda a aldeia africana tinha o seu bufão, sempre disposto a bambolear-se atrás do branco, imitando-lhe, ridicularizando todos os seus gestos.
Um missionário europeu, que viveu muito tempo entre os nativos na África, afirmava: “Tudo deles se pode obter, quando se lhes provoca o riso! Para essa gente rude e bruta, uma boa pilhéria vale mais do que mil argumentos…”.
Uma ocasião, quando ele pretendia convencer certos canibais a deixarem de devorar os inimigos mortos, antes os enterrando condignamente, o chefe de uma aldeia respondeu-lhe:
– Ora, enterrar por enterrar, prefiro enterrá-los na minha barriga!
PARA MATAR… DE RIR?
No Brasil, o toque do cômico involuntário foi dado pelo chefe potiguar, Filipe Camarão. Não se contentando em contribuir para a expulsão dos holandeses de Pernambuco (tomando partido na disputa entre dois colonizadores europeus – Portugal e Holanda, numa escolha no mínimo discutível…), ainda “declarou guerra” à Holanda.
A carta em que Felipe Camarão formaliza a declaração de hostilidade das tribos brasileiras à Holanda – uma das maiores potências mundiais da época! -, existiu, mas não se sabe qual terá sido o efeito sobre a moral do inimigo.