Arquivo da Categoria ‘Origem de Ditados, Vocábulos e Termos de Gíria.’

TRABALHO

Muitos acham o trabalho desagradável e massacrante. A etimologia do termo prova que o sentimento não é coisa nova. Vem dos antigos romanos, e deriva da palavra trepalium, que era, literalmente, um instrumento de tortura. Sinal de que já naquele tempo, algum Rufus devia dizer, em tom de queixa bem-humorada: “Meu serviço é uma tortura!”; ou melhor: “Meu serviço é um trepalium!”…

RANGO

Há quem afirme que a expressão de gíria rango, significando comida,  se origina da palavra francesa ragout – termo popular no Brasil quando era chique falar francês. O ragout porém tem uma história até certo ponto nojenta: durante o cêrco de Paris, em 1870, quando a população já exgotara os depósitos de víveres, os cães, os gatos, os passarinhos de gaiola, e outros bichos de estimação, acabaram na panela. Mas isso não foi nada. Tornou-se famoso um cozinheiro que preparava os ratos com um tempero especial, que lhes dava um gosto de carneiro. Ou seja: rat-gout-de-mouton (rato-com-gosto-de-carneiro). Preferível o rango tupiniquim de arroz-com-feijão.

GRINGO

 O termo, que significa estrangeiro, que não espanhol ou português, especialmente o alourado e de olhos claros, vem do espanhol griego (grego), e está documentado desde 1787. É que as pessoas diziam ser grego, toda a língua estrangeira que não entendiam. Com o tempo, o apelido passou a indicar também o falante dessa língua. O interessante é que gringo pode ser dito com muita simpatia, como no Sul do país, em que se refere aos italianos e seus descendentes (chamam até a si próprios gringos); ou de forma bastante pejorativa, como no México, onde significa norte-americano. Costumam dizer no México: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto de los gringos…”

CUCA

O delicioso pão doce coberto com assúcar ou frutas, é tão popular no sul do Brasil, que muita gente o supõe algo da tradição culinária luso-brasileira. Ou então, de origem italiana. Já ouvimos dizer: “A minha nona faz uma cuca deliciosa, com a receita que a avó dela trouxe da Itália!”. Na verdade o termo cuca é corruptela do alemão kuchen (torta, bolo). Os imigrantes alemães, no século XIX, trouxeram a cuca para cá, e logo ela passou a ser feita (e comida) por gente de todas as etnias.

MACACO VELHO

 No sentido de pessoa experiente, vem do ditado popular “Macaco velho não mete a mão em cumbuca”. Existe no Brasil uma conhecida árvore chamada sapucaia, cujo fruto é uma cumbuca, dentro do qual encontram-se pencas de castanhas. Quando o fruto amadurece, as castanhas vão caindo com o balançar dos galhos, por uma estreita abertura na parte inferior da cumbuca. Os macacos apreciam muito essas castanhas, e costumam enfiar a mão pela abertura para pegá-las. A mão, fechada e cheia de castanhas, aumenta de volume e o macaco não pode retirá-la, ficando preso. A liberdade só é recuperada quando o macaco, exausto, abre a mão e solta as castanhas. Essa tragédia, porém, só acontece com macacos novos, sem experiência da vida… Pois, macaco velho não mete a mão em cumbuca!…

NEGÓCIO

A expressão deriva do latim nec otium. A antiga aristocracia romana considerava o trabalho coisa indigna, castigo próprio para escravos. Por isso o nobre que se prezava, não fazia absolutamente nada. O ócio devia ser gozado com dignidade – otium cum dignitate. Até mesmo para a gestão de seus bens, utilizavam procuradores. Quando, por força das circunstâncias, algum aristocrata se arruinava, e era obrigado a fazer transações comerciais com os plebeus, sua reputação ficava maculada. Isso era considerado pela aristocracia, humilhante e vergonhoso, pois era a negação do ócio; ou nec otium. Coitados! Dá uma pena…